mudança da hora... na Europa

e no meio do Oceano Atlântico também?!!!!
Entao andam para aí a mudar a hora e nao me avisam?
Ai,...
pronto, é assim.
Encontros e desencontros sao uma constante na vidinha...
Vim eu a correr...
e, ao contrário do que diz a cançao do Milton Nascimento, nao "cheguei a tempo de te ver acordar, eu vim correndo à frente do sol, abri a porta e antes de entrar, revi a vida inteira..."
e, posto isto... (eheheh) amanha vou ter com os dinossauros, a Toro Toro. E, na próxima semana, chego à capital La Paz.

Eleiçoes na Bolívia

A comunidade católica na Bolívia nao está muito contente com o Evo. As eleiçoes estao marcadas para o próximo domingo, que é dia de Páscoa. Em dias de eleiçoes, algumas regras se impoem para eleitores/as neste país. Nao se pode beber (há que estar sóbrio e consciente para ir votar), nao há circulaçao de transportes públicos (para evitar atentados), nao há espectáculos, os cafés, tascas e restaurantes que forem encontrados a vender bebidas alcoolicas pagam uma multa bem gorda.

Votar é obrigatório. Quem nao exercer esse direito e dever tem que justificar muito bem e, para além da multa de 150bolivanos, há uma série de penalizaçoes que passam pela perda de salário, à impossibilidade de trabalhar em cargos públicos, ou ver negada a obtençao de visto para ir ao estrangeiro.

Há partidos e candidaturas às dezenas e centenas. Um regalo de ver. Nao necessariamente as manifestaçoes de campanha, as caravanas, os concertos e festas das candidaturas, os discursos, os cartazes, t-shirts, caixas de fósforos oferecidos nas ruas (iguais em todo o lado) mas os debates que se pomovem, o nível do que se discute, a diferenciaçao nas propostas apresentadas. Já tenho a voz do Evo gravada... Ele anda sempre por perto. Dada a sua popularidade, o "seu" partido corre sérios riscos de, nestas eleiçoes, vencer em todos os distritos, províncias, alcaldias e governos regionais... Assim, há, em algumas franjas, o temor que a Bolívia se torne numa temível ditadura de esquerda. Ao que parece muito dinheiro da coca está também a ser aplicado nesta campanha. Mas entre os rumores e a avaliaçao dos factos... vai uma enorme diferença. Há dias, encontrei-me com um pequeno livrinho das 100 acçoes do Evo, entre 2006 e 2008. E digam o que disserem... o homem faz obra! E faz obra bem feita!

Mas a obrigatoriedade de haver 50% de participaçao de mulheres nas listas que se apresentam nao está a ser cumprida. Ao que parece, apenas estao em 20% e um movimento feminista de La Paz ponderava, ontem, impugnar as eleiçoes até que se cumpra a lei. Vamos ver... se as mulheres conseguem essa reevindicaçao e se o Evo é um grande homem, afinal. Para mim, homem que é grande é feminista! E, para mim, ser feminista, é ser contra o machismo.

La libertad payasa y la mirada en el teatro

Taller de Teatro
9 a 11 de Abril
La Paz, Bolívia

compartido por Maria Simoes
Descalças cooperativa cultural
Azores, Portugal

horario: 15h-19h
local: sede cultural de los vecinos del plan 405
org: Tabla Roja

"Ademas, eres muy bonita!"

Enaltecer a beleza alheia é algo especial. Talvez eu o veja com os olhos da poesia e só o permita a quem considero poeta. Para mim, que não sou muito afoita nem a críticas nem a elogios, que não gosto que falem de mim, esta viagem tem-me feito aceitar melhor o que me dizem. Assim, escutar que sou bonita tornou-se uma frase à qual respondo apenas com um sorriso, agradeço e mais nada. Afinal é simples. Como aceitar que me denotem os erros ou as faltas. Mas ainda não me habituei. No fundo, estou a pagar o que faço, o que eu mesma sou e continuo a aprender a aceitar tudo o que a vida me oferece. Essa aprendizagem é, de fact,o uma dádiva e uma benção. Habituei-me já a agradecer o que de bom e o que de mau me acontece. Fica tudo tão mais fácil e faz verdadeiro sentido. Agradecer as dores, as alegrias, a comida, a cama, o dia, as conversas, os momentos, as saudades, os silêncios, as ansiedades, as angústias, as memórias, os sonhos... Estou grata. Quero manter esse sentimento vivo e não me esquecer de que, assim, tudo, mas tudo mesmo, vale muito mais a pena!

o tempo

é esse escrevinhador de palavras no corpo
rabiscando tatuagens que nao consigo decifrar
tem sabor a morangos
esse aprender a ler

Agua Conmovida

é, em espanhol ainda antes de ser quechua, o nome provisório do espectáculo que estou a montar aqui na Bolívia. O título, roubando a "comoçao" a Cristóvao de Aguiar, revela uma água que se mexe e que tem sentimentos. Assim é o povo da niñez que luta e protagoniza esta metáfora da humanidade (continuo a nao compreender exactamente as UNICEFs, mas lá chegarei.)
Muitos foram os ingredientes para a escrita da primeira versao do guiao, terminada hoje, 2 dias antes do fim do prazo que me tinha proposto a mim própria. Olé!
Poucas serao as palavras, muita a música, algum circo, água a dar com pau (na verdadeira acepçao da palavra), andas, asas, árvores mortas, capoeira, contact, dança... e uma infinidade de gente a interpretar e a ser! O público a participar e um fim em baile!
Desta vez, acho que deixei margem para que o público decida o que quer levar para casa!

sobre a água
é quente a noite dos nossos corpos. por isso dormimos sobre a água. por isso nos evaporamos como se uma canção antiga. por isso a terra inteira. [pag.46 ~ a prisão e paixão de egon schiele, vasco gato]

citaçao encontrada com encanto e, por isso, roubada daqui.

A olhar o cierro de los siete colores, em Purmamarca, na Argentina, me sentei debaixo de uma árvore a gravar a minha voz e o que me rodeava.
Gostava de, às vezes, conseguir registar o meu verdadeiro sentir. Ficarei mais feliz se as formas que vou treinando para o partilhar forem certeiras aos sentires de quem me lê, vê, escuta, sente.
Ali, senti também a terra tremer-me debaixo dos pés!
- Apura-te, mamita!
e recordo ainda o cheiro da terra quente, que é tao diferente do da terra molhada!

De viagem argentina - bolivia

E, por estas bandas, muitos cemitérios estao no cimo dos montes para que quem lá mora esteja mais perto do céu.

De viagem argentina - bolivia

Mai@s em Ponta Delgada

A convite da Mala - cooperativa cultural, as Descalças estao a criar, para o projecto Azores Combo, uma animaçao de rua que esteará em Ponta Delgada, nos dias 30 de Abril e 1 de Maio alusiva ao tema dos maios, numa tentativa de incorporaçao da contemporaneidade na tradiçao. É muito bom estar tao perto a ponto de ajudar a desenhar um guiao, partilhar o sonhar um espectáculo de rua e saber que se vai realizar! Está a ser um prazer estar dentro deste processo, mesmo que à distância.

Os bonecos/marionetas estao a ser criados pela escultora e cenógrafa Marta Fernandes da Silva (companheira de aventuras antigas e recentes!).
Vamos contar com a criançada a construir carrinhos de rolamentos!
As tigras Fatinha e Judite estao a conciliar as suas vidas com uma forma de estar na arte com muito profissionalismo (próprio das Descalças!).
Aqui fica um esquisso do guiao desenhado na minha mesa com mapa da América do Sul colado!

Lisa Ekdahl

eu nao perderia...
Hoje à noite, no Teatro Micaelense!

PANORAMA

O programa já pode ser consultado aqui. Eu nao estarei, mas estarei.

La Cancha

Eu gosto mesmo é de verdadeiramente me perder em La Cancha... Dizem que, no género, é o maior mercado da América Latina. E deve ser apenas por isso que, sim, me perco mas sempre encontro novamente o caminho em cada sábado! Este tipo de confusao de pessoas nao me cansa. Desde que nao tenha nada para comprar e possa simplesmente perder-me durante horas e horas...

E aqui há de tudo. E quando digo tudo é mesmo tudo. Vende-se. Compra-se. Fazem-se negócios. Ajustam-se contas que movem amizades. Há televisoes, computadores, aparelhagens, instrumentos musicais, frutas e legumes, roupa, sapatos, bicicletas, oficinas, carne e peixe, especiarias, tecidos, material escolar, brinquedos, peluches, bebidas, tascas, pao, velas, tapetes, cobertores, incenso, ferragens, utilidades de cozinha, artesanato, artigos de decoraçao, polícias, mendigas, pregoes, cheiros intensos de coisas, de comidas e de pessoas, avisos "cuide sus pertenencias", anúncios (Tigo,Tigo, Tigo, Viva, Entel), linhas, espelhos, vassouras e pás, latoaria (daquela linda, artesanal que já nao há!), vendedoras ambulantes de gelatina, granizado, amendoins, água, refrescos, chocolates, gelado, melancia, uvas, frango frito, empanadas...

Aliás, basta perguntar a qualquer cochabambino onde se pode comprar o que quer que seja que sempre respondem: "en la Cancha!" Claro. O pior é se procuras, de facto, algo em concreto e perguntas a um cochabambino: Mas em la Cancha, onde? e aí, fica tao difícil entender que o melhor mesmo é nunca procurar nada e deixarmo-nos perder.fotos retiradas de: http://vivirdebuenagana.blogspot.com

Dia Mundial do Teatro

Hoje é o dia mundial do teatro e, se calhar, a palhacinha... vai para a rua...
só porque lhe apetece!

presentación Plaza Bolivar - Quillacollo

foto pui-yee yu

esta foto é da apresentaçao da passada sexta-feira, dia 19, com imenso público, na Plaza Bolivar, em Quillacollo (vila arredor de Cochabamba onde vive a maioria das crianças e jovens do nosso projecto).
Objectivos desta apresentaçao: practicar, encontrar-se com público, divulgar o trabalho da PL, aumentar a auto-estima de cada participante, motivar e, a la gorra, receber dinheiro que se divide por todas as crianças participantes na apresentaçao.
um orgulho fazer parte deste projecto de transformaçao...
uma honra...
enfim, sabe muito bem ver como estes ¨miúdos" sao mesmo bons naquilo que se atiram a fazer!

Manda-me bocas

Diz a minha maestra de videoarte (Alejandra Alarcón) que muitos dos bons videoartistas começaram por fazer algum vídeo a partir da sua própria boca. Começa-se muitas vezes com o que temos mais à mao, ou seja, filmar-nos a nós própri@s! Assim, também comecei. (Nao quer dizer que deseje, sonhe ou alguma vez venha a ser boa videoartista ou sequer artista!) E o meu primeiro vídeo ficou pronto, mas nao o consigo colocar aqui. Ainda. Está muito pesado. Chama-se "Manda-me bocas", brevemente num youtube ou num blogue perto de ti!







Guardam segredo? Nao me importava nada, mesmo, agora, tropeçar num mac com Final Cut... só para mim!!!! Tenho milhoes de ideias de coisas que gostaria de fazer... eheheh

Tolices. Escrevo cada vez mais

consola-me descobrir que a escrita nao é inimiga da meditaçao. Parece uma contradiçao mas nao é.
Mas ando a escrever demasiado... gasta-se papel, tinta, dinheiro em internet, cansam-se os olhos, treme o coraçao... mas porque haveria de parar, afinal? ou porque hei-de teimar em escrever? ai, caneco, caramba, que coisa!!!

desenhei-te na parede do meu quarto
sem medo
ao meu lado, junto ao chao
olhas-me de soslaio
escondes-te
os cabelos ajudam-te a fugir
tens a vergonha e o riso
de uma criança
com as asas recolhidas
por nao crer poder voar
nao vens comigo
ficas a acenar ao longe
estás ali. aqui.
sorrimos sempre que nos vemos
ao despertar pela manha
ao mesmo tempo que gosto da tua voz
adoro o teu silencio
tenho saudades de todo o tu.

Ontem

Esqueci-de de aqui colocar e de enviar o convite. Pronto, desculpem. Já foi. Ontem, 23 Março, na Fundación Simon y Patiño em Cochabamba, fizemos a apresentaçao final do taller de videoarte orientado pela artista Alejandra Alarcon. Uma vintena de novos videos foram criados pelas pessoas formandas desta oficina. E que lindos trabalhos, alguns! Os meus... hao-de ser vistos.
E ontem também aconteceu a melhor sessao de teatro com a criançada da Performing Life. Estátuas com temas. Acçao e Parar. Público e Palco. Recolheram troncos de árvore (que sangravam vermelho de verdade, nunca tinha visto nada assim) para criar cenografia. No fim, nao queriam ir embora. "un juego más, Maria!!" E rebolámos na relva até nao mais poder!!! Imaginam?

Pobre Criadora Pobre

Pois é... dizem que a necessidade aguça o engenho. Nos países pobres a criatividade é elevada, reconheço. E começo a reconhecer-me pobre. Há 3 noites que teimo em adormecer muito tarde na madrugada porque a cabeça nao pára de criar ideias, sonhos, espectáculos, guioes, filmes, faço levantamentos de necessidades de produçao, levanto-me as escuras (para nao me acordar a mim própria), agarro um lápis, escrevo no caderno, nas folhas de rascunho, nas paredes! Invento soluçoes!

Enfim, estou a criar:
um guiao para espectáculo de teatro na Bolivia
um guiao para uma curta-metragem nos Açores
um guiao para Odisseia (espectáculo teatro) nos Açores

estou a sonhar e vou criando:
um doc a dois
5 pequenos filmes de videoarte

estou a produzir:
coisas que nem sei contar

estou a desenhar, a escrever, a fotografar, a filmar, a editar...

estou a endoidecer com arte!
como é que se pode dormir, com tanto que há para viver?

existo mas estou prestes a deixar de existir

pois é... nao aguento tantos emails do facebook a chegarem a minha caixa de correio...
eu realmente nao prometi nada a ninguém, pois nao?

Pronto, existo!

Sim, já estou no facebook. Mais ou menos "forçada" pelo grupo de videoarte Bananis escarlates... pois vamos seguir juntando-nos e criando vídeos. Tinha bem a possibilidade de criar uma personalidade fictícia... mas nao o fiz! Agora, nao prometo andar por lá. Nao me esperem!

para encher um vazio...

Há imagens que gostaria de guardar para sempre. Se o sempre existir. Memórias. E é daquela mulher e daquele homem na Doña Leo, em Cochabamba, num domingo. A forma como vieram cumprimentar-me e agradecer a minha maneira de dançar... Baixavam a cabeça a juntavam as maos como numa prece e falavam uma língua sem palavras e muito quechua. Agradecendo sempre com sorrisos. Quando eu lhes agradecia ao mesmo tempo e nos agradecemos sem palavras e com vénias mútuas e me saltavam lágrimas dos olhos por tudo isso. Porquê? Porque me agradeciam com tamanha beleza, humildade, entrega sincera e eu nao compreendi a razao e apenas senti a emoçao. Aquelas duas pessoas, que provavelmente nao voltarei a ver na vida, podem elas levantar suas cabeças e receber o "obrigada" que lhes rezo por me permitirem o que sou... e como dancei nessa noite!

passou

Estive muito fraca ontem. Bebi chá todo o dia. Fumei de vez em quando. Pouco. Sentava-me ao computador para terminar os vídeos da Oficina de videoarte que teria que apresentar hoje. Nada. O computador ainda mais lento do que eu.
Dia em camara lenta a passar. Dormir, dormir, dormir...
Uma dor no corpo de tantas horas deitada. Uma vontade de me ir esticar ao sol e a falta de energia para caminhar. Medo de cair.
Hoje amanheci mais nova. Lenta ainda. Fruta todo o dia!
A primeira versao do guiao de Água (título provisório) está pronta. Estou contente com o que está a nascer em termos de dramaturgia original de mim. Sinto-me cheia de dúvidas mas capaz!
Ainda nao vejo o espectáculo, mas adivinho-o. Entretanto ouço:

aperto

Hoje é dia de jejum. Mora-me um aperto dentro que nao encontro porque nasceu. Pareço ter o coraçao cheio de água. Custa-me respirar. Nao como. Nao fumo. Estou angustiada. O sol está lá fora e nao consegue entrar em mim. Hoje, agora, nao queria estar aqui.
Suspeito que estou a absorver muito as energias das pessoas perto. Sou uma esponja. Tenho que cuidar-me.
Há dias que o Joe Cocker anda a cantar-me ao ouvido "you are so beautiful" e, hoje, nem isso me alegra. Aliás, rompe-me mais o coraçao. Vou caminhar um pouco, depois deitar-me à espera que passe. A nuvem vai passar. Bem sei. (21mar2010)

hoje comprei um ramo de cravos vermelhos

e ando a distribui-los!
Reparto a liberdade.
Para as pessoas com quem nao consigo estar pessoalmente, aqui fica a minha flor de hoje!


para ti.
e para ti.
e outra para ti.
e para ti, também...
e...

Adios 33

Acaba-se uma capicua que me soube a dezenas de anos de vida, de emoçoes, de descobertas, de encontros, de vida, de olhares. Cresci muito, neste úlimo ano. Abri em mim uma porta que me permite dizer, hoje, que envelhecer é um projecto de vida. Que venham muitos. Celebrarei estar viva!

Dias de sol

Há dias de sol no peito e descobre-se alma dentro dele. Hoje é um dia assim. Nao tem explicacao, nem porquês. É apenas bom viver dias de sol! A lua está a crescer.

Hoje é o dia do pai, dizem

E ainda bem que há dias assim. Sr. Rui, é muito bom ser tua filha!!!! Todos os dias!

Isto é videoarte

e além do mais é performance... tem conteúdo, sentido e chega a ser tocante. Vale a pena ser artista assim. Pipilotti Rist é uma mulher... daquelas! Ao que parece, só parou quando foi obrigada pela polícia quando estava a filmar isto!

Pirata

De Andariegos restaurante

Este é o Pirata... um dos donos da casa restaurante onde vivo, em Cochabamba. Suficientemente louco para me fazer rir muitas vezes!!!! Ou nao se nota, por esta cara que ele tem?

A minha avó faz hoje anos. Lá, onde ela mora agora...

ouvir a voz do Alfredo é uma conquista

De Seleccao-PL

"Cada día una conquista" - assim respondi hoje ao Johnatan (o voluntario de contact) quando me perguntou, no fim das classes: - Y, María, como te vá?
E é verdade. Hoje aconteceu Teatro na minha classe. E consegui ouvir a voz do pequeno Alfredo, pela primeria vez, desde há 10 dias... o tal menino que só fala quechua e com quem tenho um contrato de comunicaçao. Hoje, percebi que me compreende em quase tudo o que digo. Hoje, percebi que ele queria ser uma vaca, e depois um dragao. Entao, ofereci-lhe umas asas e ajudei-o a cuspir fogo... O sorriso de dente partido, o olhar negro, as calças muito descosidas no rabo, deixando as cuecas à mostra, a maneira como tenta, tenta, tenta atirar uma simples bola ao ar e apanhá-la... (os princípios do malabarismo) e como me olha e espera, sorrindo, ouvir-me dizer: - Muy bien, Alfredo... Oh, eso! vamos! sigue a praticar! Mira, ahora la isquierda...

Hoje, pediram-me que lhes cantasse cançoes em português. Emocionaram-se em silêncio e riram escutando-me cantar. Emocionei-me também quando, no fim da classe, pela primeira vez, o pequeno Alfredo veio dizer-me: - Hasta mañana! oferecendo-me aquela espécie de "give me five" com que nos cumprimentamos todos os dias! Uma lágrima atrevida ia-me saltando dos olhos...

Filmar um doc

A Performing Life precisa fazer um documentário para divulgar um dos seus projectos e conseguir mais fundos. Pediu ideias. Ofereci o meu trabalho na realizaçao. Projecto aprovado. Em Abril começo a filmar um doc sobre o Proyecto de las manillas. A ideia - um filme de personagem/personagens, sobre as crianças que fazem pulseiras: as que querem melhorar a sua vida, as que já estao no projecto e as que já conseguiram obras visíveis e melhorias nas suas vidas pessoais e familiares.

vivo num restaurante

ainda nao tinha dito, pois nao?
Há coisas que para serem contadas precisam de tempo (ou outra coisa qualquer). Certo é que, independentemente de isso nao ser nada importante para a felicidade do mundo, ainda nao consegui contar aqui que, há uma semana, vivo num restaurante.
Hei-de ir contando.
- Mira, que mierda. La señora es vegetariana... (nao estao a falar de mim, descansem. Didier, o chef francês, refere-se a uma cliente que veio acompanhar um dos mais carismáticos mestres budistas da Bolívia.)
A Carolina aflita, nunca cozinhou comida vegetariana, o Didier absolutamente irado de desespero, incapaz de raciocinar com o pânico. Ofereço-me para cozinhar rapidamente uma massa com...
E eis que assim cozinhei no Andariegos restaurante e, dizem, foi um sucesso... para a senhora e o budista, claro! E feito em 15 minutos! Olé!
Quem diz que uma mulher nao sabe fazer tudo o que for preciso fazer?? Já se sabe.

o horizonte de alguém

Un de los musicos del grupo Kollamarca acerca se de mi mesa buscando algo o alguién. me mira. saluda sin dejar de buscar...
le pergunto:
- ha perdido algo?
- perdi mi horizonte.
sorrio, encolho os ombros quase pedindo desculpa por nao o poder ajudar. continua a sua busca. ali, parado, procurando com o olhar. encontra. vai, decidido, sorrindo. sigo-o com o meu.
Senta-se ao lado de uma mulher.
(Cochabamba, La esquina, 13.mar.10)

Filmar

Às vezes os impulsos criativos resultam da raiva ou de uma certa inquietaçao visceral. Hoje agarrei a câmara e acçao!
E é realmente um prazer este de filmar. O meu olhar fica parado nas coisas que vê. Paira.
E, por mais que esteja demasiado dentro da Performing Life, filmar os putos a trabalhar nos semáferos, hoje, fazendo malabares e lavando vidros, permitiu-me uma aproximaçao às suas vidas ainda mais intensa. Emocionei-me por detrás do pequenino vidro... E, curiosamente, dizem que por eu estar ali a filmar, hoje, receberam mais dinheiro do que é habitual...
Tive hoje mais presente a vontade de deixar respirar os planos. Confesso que é uma descoberta bonita. Como se a câmara necessitasse respirar comigo e eu com ela. Agora, vou editar! Espero que tenha valido a pena a quase insolaçao que apanhei. Senao, valeu uma vez mais pelo que já recebi.

Pachamama vs Virgem Maria

Pequenos descobrimentos...

A Pacha Mama é a mae Terra ou mae Tempo. A virgem Maria toda a gente sabe quem é.
Nos rituais (procissoes) à Virgem Maria que se fazem na Bolívia, realizam-se algumas acçoes que sao mais bem características dos cultos à Pacha Mama. Ainda bem que assim é. Ainda bem que nem tudo a igreja católica conseguiu matar. Assim, apesar de se transportar uma imagem, do percurso ser em jeito de procissao e de toda a cerimónia ser presidida por um padre, na procissao à Virgem Maria os crentes bolivianos ainda enterram comida em tachos de barro, regam a terra com uma bebida alcoolica e atam-se fios de la de lama, pretos e brancos, aos tornozelos, pescoço e pulsos (coisas que fazem parte das cerimónias da Pacha Mama). Está bem, digo eu. Está muito bem.
Pachamama é culto à Fertilidade. Virgem Maria é culto à Virgindade.

Para os indígenas a virgindade é um conceito ligado à propriedade privada e isso para eles, verdadeiras cooperativas de trabalho, nao existe. Interessante isto, nao? Alguma coisa me dizia há muito que a propriedade privada é uma realidade muito pouco desejável...
E, quanto ao resto, sem dúvida, sou pela fertilidade!

toma (excerto)

Toma, sao os meus lábios.
nao me servem se nao os beijares.

(...)guarda todos os pedaços de mim nessa caixa(...)

inquietaçao

estou inquieta. há dias. aqui e nao cá.
ou seja estou inquieta noutro lugar
aí.
e nao cá.

Começa a vestir-se uma obra de teatro

Ainda nao tem nome mas vai ter água! O espectáculo será uma co-produçao Performing Life, Compa Teatro Trono y Descalças cooperativa cultural. Contará com a interpretaçao de mais de 30 crianças e jovens!
Os conceitos presentes no guiao que estou a escrever sao:

• a contemporaneidade (histórias pessoais e sociedade actual, crianças trabalhadoras, crianças de rua)
• a memória colectiva (história de um povo de muitos povos)
• a espiritualidade (rituais, lendas, mitos, cultura, humanidade)

Algumas técnicas que irao pintar o espectaculo:

• artes de circo (malabarismo, monociclo, diablo, contact, etc)
• acrobacia
  
• musica (também ao vivo)
• dança e coreografias de grupo
• teatro
  
• humor
• sonho

Por aqui ando. A Bolívia é uma ilha sem mar. Isso eu já vivo. Estou na ilha! Continuo ilha.

a casa às costas

às vezes é difícil caminhar feita caracola tartaruga cangurua pessoa...
uma gente como a pessoa que sou eu baralha-se com tanta personalidade animalística junta...
mas ando feliz e bronzeada, que se há-de fazer?!

Obrigada mana, pela mochila. Obrigada Francisco pela lanterna mágica (é espectacular!!!). Obrigada Saozita pelos saquinhos de pano. Obrigada Graciela pela foto.

rascunho para t

eu queria hoje
poder olhar-te nos olhos
e nao dizer nada
e que me escutasses o silêncio
e me mordesses o amor
e saboreasses a felicidade
de o meu olhar
a olhar o teu olhar.


eu queria hoje
desejar nada querer
e da tua boca
escutar
que o meu olhar
no teu olhar
mata
mas é vida a caminhar
a algum novo e terno eterno lugar


eu queria hoje
estar perto de ti
como moraste em mim
hoje
que inundaste todo o meu respirar

um homem já velho ou parecendo velho (que a rua nao perdoa...), sentado no passeio "lambendo" uma ferida. A ferida antiga. Vejo-lhe o osso da canela, um buraco na perna pronta para amputar.
Nao lhe alcanço os olhos. A imagem fotográfica fica-me cravada na memória e quase nao consigo almoçar. É tudo demasiado angustiante. Telefono para o 912 (nº emergencia). Ninguém atende ou está sempre ocupado.
- y aunque te contesten, nadie lo va a recoger, maría...

Oficina de Videoarte

Hoje, vou começar a frequentar uma Oficina de 10 dias (20h) de Video Arte. Aqui. Por princípio, pediam que as pessoas inscritas tivessem um computador portatil pessoal. O John deixa-me usar o "meu" Mac da Performing Life, mas... nao é portátil. E vai daí que a formadora me informou que ia partilhar o seu computador comigo. Faineza, nao?

De viagem argentina - bolivia

Bolívia

De viagem argentina - bolivia

o rosto de "Hola, Maria!"

chama-se de Juliana...

- Gracias, mamita! Buen día de la mujer!

Hoje é o Dia Internacional da Mulher...

tenho o pensamento quase vazio...

Procurar casa em Cochabamba

Ontem vi um apartamento barato (100 us$) e que fica precisamente em frente ao mARTadero, onde irei, em princípio, dar várias oficinas de teatro (pagas!)... Uma das coisas mais incríveis é que fui levada pela cidade, de mota, sem capacete, para ver esse apartamento que fica num bairro pacato da cidade... Gostei do apartamento e do preço, mas, mas, mas...

Comprei hoje, novamente, o diário "Los Tiempos". Ao domingo, a secçao de classificados é extensa!!! Faço dezenas de telefonemas. Combino ir ver algumas casas, descarto outras (pelo preço ou pela localizaçao)... Ainda nao conheço suficientemente bem a cidade para saber se as localizaçoes me interessam ou nao...

Na verdade, confesso, ando namorando uma casa assim, mesmo que nao esteja para alugar... ;-)

Mas... vai ser difícil, já se sabe!

foto em: http://static3.bareka.com

Subsídios para a cultura nos Açores VI - mARTadero

Com tantos subsídios que tenho vindo a atribuir à cultura nos Açores ainda me arrisco a ser considerada mecenas! Descansem, artistas, quem me dera. Descanse quem acredita, como eu, que a Arte e a Cultura podem mudar o mundo... Eu estou aí, convosco, mas "só" contribuo com ideias, sonhos e trabalho!

O mARTadero, em Cochabamba, é apenas só mais um exemplo do que poderia (e, quanto a mim, deveria) muito bem já existir em Ponta Delgada (*), há anos!!! E este exemplo está vivo, na Bolívia que é o país mais pobre da América Latina... Dá que pensar, nao dá?

Pergunto-me o que aconteceu afinal na história dos Açores para que a produçao cultural tenha sido tao sufocada... Um dos livros que ando a ler é "La preparación del director" de Anne Bogart, uma americana encenadora de teatro. Uma das investigaçoes que ela fez, antes de se convencer que a direcçao teatral a escolhera como ela escolhera essa profissao, foi precisamente procurar o que era a cultura teatral americana. Onde estava a sua especificidade, originalidade, identidade... Para isso, teve que passar alguns anos na Europa e compreender que nos EUA se criava por imitaçao ao velho continente. Entao, começou a procurar a raiz do problema. E, ao fim de algum tempo, compreendeu que afinal uma sucessao de políticas estadunidenses havia decepado, censurado, limitado, condicionado a criaçao artística teatral naquele país, durante anos, a ponto de a identidade se ter quase perdido...

Nao compreendo muito bem o que as politicas (nao só culturais) nos Açores andam a fazer à cultura dos Açores... mas acho que é preocupante a realidade!

“El acto de hacer teatro es ya utópico en sí mismo porque el arte es un acto de resistencia contra las circunstancias” (Anne Bogart)

(*) - antigo matadouro (Sta Clara), fábrica Sinaga (R. Lisboa), estabelecimento prisional (Calheta), etc, etc, etc...

Vale a pena!

Vale a pena, vale mesmo a pena ter percorrido estes milhares de quilómetros, neste caminho, ter já trilhado tantos dias de viagem, para andar vagueando pelas ruas e avenidas de Cochabamba, num sábado de sol, tranquilamente sem planos, e ouvir: Hola, Maria!
Olho, um sorriso. Sentadas no passeio, tecendo pulseiras com fios de linhas coloridas, a mae, a filha e o filho. A mae nao fala espanhol, só quechua e é uma das mulheres do Projecto de las Mujeres da PL, que cumprimentei na passada segunda-feira com um raro beijo na cara. Vale a pena. Vale mesmo a pena ter feito este caminho, estar numa cidade com cerca de 1,5 milhao de habitantes só para ouvir este "Hola, Maria!" da boca de uma mulher que nao sorria, há uma semana...

Ao fim de semana... namoro!

Amanha e domingo nao vou trabalhar! Vou tratar de passear, encontrar a minha casota (a ver se é desta, que a coisa nao tá fácil... ) e estou disponível para namorar! "Quem quer casar com a carochinha?"

grande dia, hoje. E é sexta-feira!

Terminou hoje a primeira semana de trabalho. Após dois dias em que nao tivemos criançada, hoje apareceram em magotes.
Começamos a clase "practicando!!!" como sempre repete o John. Eu nas bolas (malabares) com umas quantas crianças, outras com clavas, outras diablo, monociclo, swings... Uma das chaves de sucesso é que as crianças se ensinam umas às outras. Depois, fizemos uma reuniao geral onde o John explicou como vao ser os talleres ou clases dos próximos tempos. A irlandesa Emma orientará um taller de swing (2 semanas). O boliviano Johnatan, contact with ball. O belga Janko capoeira e break dance (2 semanas). A açoriana (ahahah) Maria, teatro onde a ideia será montar uma obra com tudo o demais. O John continuará com as artes de circo. Às 2ªs feiras, música com o boliviano Oscar, ou el rasco (hip-hop e afins). E assim, as crianças fizeram uma fila, inscreveram-se debaixo de uma árvore do Parque El Niño onde trabalhamos todos os dias e, de seguida, começámos!
E foi assim que, absolutamente de improviso, fiz hoje a primeira sessao de teatro com Alberth, Rossio, Leticia, Maribel, Silvia, Cristian e Alfredo. O pequeno Alfredo (a sério, é minúsculo...) nao fala espanhol, só quechua. Está no nosso grupo para ser melhor integrado, uma vez que as miúdas servem de tradutoras. Assim, fiz um contrato com ele: ensino-lhe espanhol e ele ensina-me quechua. Aceitou. E, por isso, já posso contar: ui, iskay, quinsa (um, dois, três).
Comecei por conversar um pouco com el@s. Soube que nunca fizeram ou viram teatro, na vida. Hummm... (dá que pensar...) Saquei-lhes algumas histórias, lendas ou mitos, para começar. (as histórias absolutamente coloniais... de brancos, como a bela adormecida, ou a branca de neve e os 7 anoes, ai que raiva! Mas das lendas j´s surgiram coisas da bolívia...),.. Pedi-lhes que me contassem o que era melhor da sua terra Cochabamba, Bolívia. Responderam: a comida, os parques, a fauna, as lagoas e rios, a paisagem... "E as pessoas, como sao?" - perguntei. "Algunas son buenas, otras malas..." "Y las buenas que hacen para ser buenas?". Primeira resposta: "Ayudan los niños huerfanos y los niños que traballan, no contaminan y no critican..."
... Fizemos jogos de movimento, de imitaçao, rimos bastante, comecei a dar-lhes os primeiros sinais da nossa nova linguagem artística... Enfim, foi uma sessao difícil. Confesso que estou meia enferrujada para a seduçao teatral, nem sempre entendo o que me dizem (pois esquecem-se completamente que eu nao sou espanholofalante) e nao tinha a coisa nada estruturada para hoje... Mas, no final, as "minhas" (que nao sao minhas) crianças comentaram com a irlandesa... Teatro es lo más divertido!!!
Um rapaz que é um ás em todas as artes de circo, o Ovídio (17 anos) estava aflito das costas. Comecei a ensinar-lhe a esticar-se. De repente, 10 criancas me rodeavam para me imitar, com curiosidade genuína. Uma coisa que verifiquei hoje é que, apesar de serem tao criancas, nao tëm quase nenhuma flexibilidade, destreza motora ou criatividade física. (Depois de aprenderem uma coisa, evoluem super rápido, mas, 'a partida, fisicamente, sao criancas super bloqueadas e presas) Provavelmente, isso deve-se muito a má nutricao generalizada, mas nao tenho a certeza, tenho que ver mais. Por exemplo, tudo o que o Janko lhes pedia para fazerem no brek dance e capoeira, eu conseguia fazer. A maioria deles nao. Dai que, é bem provavel, que eu venha a sugerir ao John orientar aquecimentos de conjunto antes de se dividirem pelos diferentes talleres, diariamente. Acho que era bom!
Terminada a sessao, eu e o John saímos voando pois tinhamos encontro marcado com o Miguel (que dirige o grupo do Teatro Trono, em Cochabamba... a tal ponte que eu havia iniciado). Apanhámos taxi, fomos. O Miguel tinha à nossa espera o seu grupo de jovens actores e actrizes e uma apresentaçao de um espectáculo... Uau. Arrepiei-me.
E deu-me umas ganas de trabalhar com aquela malta! Ui. Ai, ó pá! Quase certo que os iremos integrar no espectáculo que vamos montar. Firmámos entao algumas chaves de possível colaboracao. E querem aprender tudo!!! Assim, na próxima semana, iniciarei com estes 10 jovens actores e actrizes (que cantam e tocam bombos também) sessoes de teatro/interpretacao, acrobacia, movimento criativo e voz... e o que mais eu saiba e lhes apeteca.
Comeca a loucura a bulir.
Entretanto, hoje é viernes primero (que significa que está instalada a puta da loucura na cidade) porque nas primeiras sextas-feiras de cada mës toda a gente sai para a rua a dancar, conviver e emborrachar-se... E a polícia anda a cata de passaportes... e parece que até os rouba... daí que... vou-me por a caminho de alguns boliches (ou seja... café ou tasca) pra comemorar este viernes primero.

(PL) Performing Life - eu como testemunha directa

O que faz de especial a Performing Life (PL) que a torna uma ONG... especial?
Para além de usar as artes (circo, música, cinema, artesanato e, agora, teatro) como ferramenta de empoderamento (de crianças de rua, de crianças trabalhadoras e de mulheres pobres) a Performing Life (fundada pelo estadounidense John Connel quando tinha 18 anos e se apaixonou por este país, quase foi deserdado pela mae e "yo sabia menos que tu, de malabrares, cuando llegué") procura sempre apoios que lhe permitam:

• pagar uma refeiçao diária a cada criança, depois da classe na Performing Life - actualmente sao cerca de 35 - pois de outro modo nao poderiam vir às classes, uma vez que a seguir vao trabalhar.
  
• pagar as despesas de saúde de crianças e mulheres - ainda hoje eu fui ao dentista buscar a lista dos tratamentos que estao feitos e por fazer. Boris, o dentista, é um voluntário também que apenas cobra os custos de material.
• pagar as despesas educaçao das crianças - uniformes, livros, material escolar, etc
  
• pagar uma refeiçao diária às pessoas voluntárias de todo o mundo que estao permanentemente a vir colaborar com a Organizaçao
• ter aberta uma conta em nome de cada uma das crianças do projecto onde se vai depositando o dinheiro que recebem dos espectáculos ou outros trabalhos que façam, da venda das pulseiras, etc.
  

O Jonh continua um jovem, um niño, que abraca diariamente uma família demasiado grande e pesada para um rapaz só. Para mim, já é um herói. Para estas pessoas, nao sei como lhe chamam.

Tania

A Tania é uma das doces meninas que vem diariamente as aulas na Performing Life e integra também no projecto das pulseiras. Ou seja, as pulseiras lindas que faz sao vendidas e transformam-se em aumento do rendimento familiar. Uma casa pode ser construída com paredes sólidas, com casa de banho, com água canalizada e luz... Quem sabe, pode comer melhor... Para além disso, é uma excelente malabarista (com swings, com bolas, com diablo...). E já me ensinou umas quantas coisas... com uma facilidade nas artes de circo que chega a ser estonteante. Como a sua beleza, nao? Esta foto é no dia do seu aniversário, depois de receber a flor pela envergonhada mao do namoradito... Eu mesma lhe sugeri que a colocasse na orelha. Ela fugia da máquina fotográfica, mas certamente vai adorar ver-se aqui... Assim espero. Já vou saber.

Paz

Este é um dos mais recentes videoclips da Performing Life. Trata-se de um resultado artístico de 3 vertentes de trabalho da Organizaçao (Film, Music and Performing Arts). Como vai ser o espectáculo de teatro que vamos criar. Este vídeo é tao só uma das muitas razoes porque estou a viajar.

mais um dia de "paro"

Mais um dia em que os transportistas estao de greve. A coisa está a ficar feia. Ontem transportistas agrediram taxis e outros veículos, quando estes passavam os piquetes. A polícia respondeu com igual violencia contra os transportistas e seus veículos.
A comunicaçao com o governo nao foi estabelecida. Nao houve qualquer aproximaçao a negociaçao.
Hoje os transportistas ficaram em casa (bebendo? pergunto), mas deixaram os autocarros parados no meio das ruas. A policia começou o dia a reboca-los para permitir a circulaçao e apreendeu chapas de matrículas dos veículos infractores. Entretanto, o governo nao cede. Evo Morales afirma que os transportistas podem parar todo o ano! As pessoas estao também a ficar meio revoltadas. As escolas estao fechadas, os serviços a meio gás, a populaçao nao tem propriamente orçamento para se deslocar de taxi. Ontem, cerca das 18h, mais pessoas do que as habituais caminhavam a pé, atravessando a punte cobija. A coisa está feia. Em 2007, por uma reivindicaçao de produtores de fruta que também bloquearam a entrada na cidade, quase havia uma guerra civil... Neste caso, os transportistas estao a prejudicar milhoes de pessoas... e por isso a coisa pode enfeiar!
Eu acho muito bem que as pessoas se manifestem, que bloqueiem cidades, que uma populaçao ou um sector dela tenha o poder de fazer parar um país. Aquilo que nao acho bem é que condutores de transportes colectivos se achem no direito de conduzir embriagados... e é por isso que eu nao defendo radicalmente a manutençao de certas tradiçoes.

as minhas tranças (excerto)

(ou delírios de uma náufraga II)

Julho quente na ilha
sábado de eterna certeza molhada de dúvida
fui levar o meu amor
à sua amada.
Nesse dia, revolvi as entranhas
e cortei as tranças que,
compridas,
ameaçavam
acariciar-me o centro das costas
e

aprendi de mim mesma

que posso mudar.
"-Eu posso mudar!!!"

Cansou-se um verão
e outro se antecipou
vivido mais ao sul
de um mundo sem norte.

Hoje, não sei muito bem o que fazer ao cabelo. Se o corte, se me dispa e o deixe voltar a acariciar-me a pele.
as mulheres que me rodeiam trazem as tranças aos pés... negras, brilhantes, antigas... e gargalham em silêncio sem nunca chegarem a abraçar ninguém. Os seus olhos furtivos são de pó. Do pó vieram...

As tranças renascem. Outras. De mim.
a mesma.
outra.

informaçao de última hora

Para os devidos efeitos torno público que nao entrei no aviao que me estava destinado, ontem, em Buenos Aires, rumo a Madrid, Lisboa e Ponta Delgada!
Informo ainda que, neste momento, devido ao elevado custo que teria a alteraçao do meu bilhete (aproximadamente 1200 euros que obviamente nao tenho e ainda que tivesse me recusaria a pagar!), estou sem data de regresso marcada e sem bilhete sequer.
Vai daí que... como eu sempre digo (e muito bem, aliás) O que for, será!

Hoje as crianças nao apareceram...

Os motoristas de transportes públicos de todo o país estao de greve e organizaram piquetes para parar todas as estradas. E as greves sao um direito (e eu normalmente acho muito bem...!). Mas, ainda assim, perguntei: qual o motivo del paro?... verdadeiramente, o governo boliviano aprovou uma lei que determina que a carta de conduçao de um motorista embriagado lhe seja retirada para sempre. (sim, ¨paro de borrachos!¨foi como um representante do governo intitulou, nas noticias do meio-dia, esta greve) Os motoristas nao estao de acordo e vai daí pararam tudo o que é estradas e entradas nas cidades e houve brigas até com os taxistas. O governo reagiu rapidamente e colocou polícia (montes deles armados até aos dentes e com cara de poucos amigos) na entrada de todas as cidades para impedir que os motoristas avancem para os centros. Resultado: basicamente hoje a Bolívia está parada!
Bom, na Performing Life nao parámos. Reordenei o mobiliário do escritório de voluntariado, instalámos um Mac para mim, organizei todos os produtos feitos pelas mulheres e que temos para venda, arrumei prateleiras, varri... enfim, há tempos dizia que nao era assim tao organizada, mas parece que mentia...
El rasco (o músico e compositor de serviço) ouviu-me trautear improvisando por cima do que ele estava a compor. Contratada fui. E vou gravar! Eheh, que giro!
Entretanto, vou tentar descobrir como se poe este teclado a escrever em portugues, que isto assim é bem difícil...

rico dia...

Hoje tive um dia muito rico. Conheci boa parte das crianças com quem irei criar um espectáculo de teatro, que estreará no final de Maio, onde integraremos artes de circo, música e tudo o mais que nos apeteça!
Aprendi com a Escarlate uma lenda da Bolívia sobre a tribo dos Urus (que é anterior aos Incas...). Aprendi malabarismo com massas, diablo com a Tânia e o Ovídeo, ensinei malabarismo com bolas a duas meninas novas que acabam de entrar no projecto (é como andar de bicicleta, nao se esquece). Trepei a uma árvore alta, alta para apanhar pacais (uma fruta deliciosa que parece uma fava gigante mas dentro está cheia de ... anonas em forma de bago de uva... dá para entender?) e estudar a localizaçao do baloiço que ali vou construir. Tive ideias, em catadupa: para o espectáculo, para a Performing Life, para o projecto das mulheres, para a decoraçao da casa... limpei o fogao... e... bom, confesso, almocei frango! Porquê? Porque ontem à noite estava a chegar a "casa" pensando que aqui na Bolívia, ao contrário da Argentina, ainda nao há delivery... Há muita comida confeccionada na rua mas nao se entrega em casa... Também pensava, claro, os bolivianos nao têm poder de compra para esses serviços de luxo... (estar em casa, telefonar e vêm trazer-te o que queiras ou sonhes ou desejes a casa, directo ao teu sofá...). E nisto, uma mota chega à porta do hostal ao mesmo tempo que eu. Uma bagageira de arca feita de esferovite e... é um taxi-moto. Trazia frango. Perguntei ao moço (Alfredo) se era delivery. Explicou-me que nao, que era taxi-moto, da casa dos frangos os chamavam para virem entregar as encomendas aos clientes... Entao eu expliquei-lhe justamente em que vinha eu pensando pela rua... e assim foi, conversamos um pouco, contou-me as desventuras duras (sempre sorrindo) suas três tentativas frustradas de chegar aos Estados Unidos, emigrando com a colaboraçao de corruptos coyotes, fui para o meu quarto e 5 minutos depois batiam-me à porta. Um rapaz chamava por mim... Era o Alfredo. Oferecia-me jantar porque nao queria virar a cara a uma coincidência daquelas! Nao pude recusar. O frango ficou para o almoço de hoje. Em suma, as coincidências nao existem. Elas estao sempre a acontecer. O que se passa é que nem sempre estamos disponíveis e com atençao a esses momentos de surpresa e rara beleza que se cruzam a cada segundo no nosso caminho. Esta forma de descobrir estas raridades... é um passo para viver mais momentos de profunda alegria. eu estou treinando!

subsídios para a cultura nos Açores V

O meu filme "Mais um dia à procura" foi seleccionado para o PANORAMA 2010 - 4ª Mostra do Documentário Português.*
Este filme foi realizado no âmbito do Atelier de Cinema Documental promovido pela Corredor - Associaçao Cultural, no ano passado. Nesta ediçao daquele que é um dos mais importantes festivais de cinema documentário em Portugal, a Corredor viu seleccionados três dos filmes produzidos no âmbitos das suas actividades de formaçao.
Seguramente, esta Associaçao é das que mais obra tem realizado, nos últimos anos, nos Açores, investindo, apostando e acreditando na formaçao em cinema e noutras artes! Pelas artes e pela cultura!
Com muito sentido! E muitas vezes, contra a corrente da falta dele.

* A iniciativa continua a evidenciar-se por ser uma Mostra não competitiva, exclusivamente nacional, contribuindo para que se conheça cada vez melhor o documentário que se produz, anualmente, no nosso país. Decorre de 9 a 18 de Abril, em Lisboa, no Cinema Sao Jorge. Mais informaçoes em:
http://www.facebook.com/pages/Panorama-4a-Mostra-do-Documentario-Portugues/245441258470
http://www.videotecalisboa.org/index.php?module=ContentExpress&func=display&ceid=251

primeiro dia... e nao um diário, descansem!

almoco num vegetariano muito baratinho (e bom!).
depois, à tarde conheco o Oscar (coordenador do projecto musical). Hoje vao chegar cá uns músicos peruanos seus amigos que vêm conhecer a Performing Life e trabalhar um pouco com as criancas que aparecam. Infelizmente apenas 2 criancas vieram hoje.
Conheci um pouco melhor a Lucia (uma das mulheres do projecto de tecedeiras) e apareceu outra mulher com coisas suas para vender. O Jonh teve que dizer-lhe que nao. (a vida, às vezes, custa isto... querer e nao poder dizer sim... relembro o filme "o fiel jardineiro" quando ele disse à Rachel: sao milhoes, Rachel. Nao podes ajudá-los a todos!") O projecto das mulheres tem que ser sustentável. Só se integram mais mulheres quando houver seguranca nas vendas. Amanha, o Jonh continuará tentando que as mulheres se organizem no seu próprio negócio, que formem talvez uma cooperativa. Falamos de haver alguém para ensinar espanhol às mulheres que apenas falam quechua. (quase me tento! ai que perigosa!)
E agora vou ali ao estúdio de música ver o que fazem. Já planeei um baloico na árvore do Jardim, comeco a ter ideias para o espectáculo, há que juntar vozes de mulheres às músicas rap/ hip-hop que as criancas já fazem... Também vou meter o bedelho na música, já se sabe. E... oh, por dios! Têm câmaras, programas de edicao, um computador faineza para montar... e nao têm voluntários para continuar o "film project". Ai, é certo que nao consigo fazer tudo, mas a ideia de filmar o espectáculo final e transmiti-lo em directo para os Acores... isso mantém-se, pelo menos.

Comecei a trabalhar

2a feira,
reuniao com o director Jonh Connell. Apresenta-me a oficina (escritório e casa) da Performing Life. E conta-me mais em detalhe como tudo funciona.
Quando cheguei à casa, estavam as mulheres (que vëm todas as segundas feiras) a tecer, coser, terminar bolsas, pulseiras e mantas. Só duas falam espanhol, as restantes quechua. Cumprimentei-as uma por uma. Bonitas as mulheres e os seus olhares que me estranharam.
Neste momento, a organizacao está com dificuldades na venda dos seus produtos e precisa de ajuda. Daí que lanco o meu apelo... Na página da Performing Life podem encontrar o catálogo dos produtos. E eu, daqui, posso fazer a ponte com o voluntário japones que está encarregado disso agora. Podem comprar-se produtos à consignacao. E realmente uma pequena compra daí, ajuda as mulheres daqui a construir suas casas, a montar suas lojas, a tirar os seus filhos da rua, etc... Neste momento a performing life está a tratar de conseguir o titulo de fair trade (Comercio justo) para a venda destes produtos.
Esta semana teremos reuniao com o Miguel (do Teatro Trono) por causa da ponte que eu ja havia iniciado. Assim, se tudo correr bem, estas duas organizacoes que nao se conheciam irao passar a trabalhar juntas. A ideia é eu ajudar a criar um espectaculo de teatro durante o tempo que aqui vou estar e depois eles seguem intercambiando teatro e artes de circo para o futuro.
Por outro lado, esta semana vou assistir as aulas de artes circences (e eu mesma vou aprender!!! iupiii, monociclo, aí vou eu!!!) e conhecer as criancas.
Na proxima semana já sou eu a orientar as aulas de teatro. Olé!

A terra treme

Sim, a terra treme deste lado do mar e em Purmamarca (Argentina) senti, no sabado, pela primeira vez na vida, o que isso significa debaixo dos pes. E estranha a sensacao, confesso. Estranho o que significa uma voz amiga "está temblando, mamita, ven. Sale de ahi" e era para mim que estava a por a mochila as costas, me preparava para seguir viagem, tinha o autocarro ä espera e me chamavam para largar tudo e ir para a rua... Fui. Passou o tremor de terra.
Mas as noticias nao sao exagero, nao. A terra anda a tremer.
Mas eu estou bem! Quando nao estiver... aviso...

livros e bons dias!

Acordei hoje as 6h da manha, na Bolívia! Os pássaros me despertaram e a cidade parece outra, na hora matutina.
Tenho lido bastante... Gostava de aqui partilhar breves resumos (ou as impressoes que me nascem) de alguns livros que tenho lido e depois envio por correio para os Acores. Quando tiver tempinhos de computador sem pagar, hei-de escrever.
Entretanto, o primeiro livro que compro na Bolivia chama-se "La revolucion cultural - un metodo para armar." Cheira bem!
Vou, daqui a pouco, conhecer a Performing Life e o Jonh.
Un buen dia deste lado do mar!

Já estou na Bolívia

Passei a fronteira a pé (e isso, garanto, é uma experiência inigualável...) e começou a custar respirar.