foto: Adriano Miranda / texto: Ana Cristina Pereira
O alecrim e o tomilho não disfarçam o cheiro a fumo entranhado na casa de granito tosco. É uma casa pequena, apenas um quarto a dar para uma cozinha, sem chaminé, nem luz, nem água, nem gás, nem chão fiável, só alguns móveis e a lareira que Olga Ribeiro daqui a pouco acenderá.
Nunca teve electricidade. “Antigamente, ninguém tinha”, diz a mulher de rosto redondo, rosado. À luz da candeia, fazia-se muita lida de casa — e até trabalho agrícola. Mudou-se para esta casa aos seis anos, já lá vão 34, mas não a toma por sua. O senhorio morreu. “Os herdeiros não vieram procurar renda. Se ponho luz, ainda aparecem aí a dizer: ‘Quem mandou?’”
Há uns anos, atreveram-se a deitar uma camada de cimento no chão do quarto. O que lhes custou juntar dinheiro para aquilo! Na cozinha deixaram estar a terra e a pedra irregular. Nunca fizeram casa de banho. Lavam-se num balde grande, de plástico, igual ao que outros usam nas vindimas. Nunca fizeram retrete. “É lá fora, ao ar livre”, diz ela. Não têm água canalizada. “Vamos buscá-la à fonte.”
Num canto da cozinha, sobrepõem-se rolos de loureiro que o irmão, António, cortou com o serrote oval, agora pendurado na parede. António não se vê. Anda de roda das três ovelhas. Só Olga está em casa. Foi buscar uma couve penca à horta. Daqui a nada, há-de pôr a panela ferrugenta ao lume, com a couve, um punhado de feijão, três ou quatro batatas e água a cobrir tudo isso.
(continuar a ler aqui)
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