Estás ao meu lado e dirigimo-nos, por um corredor sem muita luz, para o elevador. Não te vejo a cara porque sou mais baixa do que tu e a câmará está, definitivamente, à altura do meu olhar. Sou eu que olho. Dou-te pelo ombro. Tens os ombros largos. Emagreceste, nos últimos dias.
Entras no elevador à minha frente.
É daqueles antigos, com uma porta interior tipo cortina que temos sempre que fechar antes de o fazer andar.
Eu aguardo uns segundos por alguém que vinha mesmo atrás de nós e, afinal, demora a chegar. Eu só quero despedir-me, dizer algo como "até amanhã" ou "até logo".
Tu estás dentro do elevador. Não te vejo a cara mas sei que sorris para mim. Achas lindo eu querer despedir-me. Aguardamos mais um pouco. Eu entro no elevador. Mantemos a porta aberta e continuamos a aguardar.
A espera é lenta.
Delicadamente, muito delicadamente, dás-me a mão esquerda e com a direita fechas lentamente a porta de rede interior, deixando para mim a decisão de levares esse acto até ao fim. Estás a fechar a porta do elevador e não olhas para ela, mas para a minha boca. Eu só vejo a porta a fechar-se na tua mão, e é como se o movimento do "adeus" fosse perfeitamente comandado pelo meu olhar. Sorrio.
A porta fecha-se. Apontas o botão com o indicador para o último andar do prédio. Olhas-me. Aceno um "sim" com a cabeça. Pressionas o botão. Subimos.
Eu não precisava despedir-me.
Sem comentários:
Enviar um comentário