quarta-feira, 13 de novembro de 2013

oi?


Eu nunca senti nenhuma atracção pelo povo brasileiro. Atrai-me, no entanto, a obra do povo; a sua música, a literatura, a dança... Consigo apreciar a beleza estonteante das paisagens que compõem o Brasil, admiro a alegria do sangue africano e indígena que lhes corre nas veias e gosto de ver junta a bela mistura de culturas que convivem no país.

Desta vez, calhou-me conhecer gente que veio para contrariar as minhas experiências anteriores. Em boa hora! Saravá Casa dos Açores do Rio de Janeiro! Fico, a partir de agora, com vontade de voltar ao Brasil e adentrar-me no que vale a pena!

E não há bela sem senão.
O que continua a deixar-me boquiaberta e quase desesperada é quando, no final de uma frase minha, quando faço o inevitável silêncio que aguarda uma resposta d@ interlocutor/a, ouço: Oi?

E eu pergunto, primeiro para dentro franzindo o sobrolho, depois para fora deixando sair a voz: Oi?

E a minha pergunta quer dizer e não diz. Quer dizer: onde é que o meu português não consegue encontrar-se com o teu, podes explicar-me? O que é que não entendeste mesmo? Uma palavra? A frase inteira? Não entendeste nada de nada?!
E sinto-me chinesa, russa, polaca, japonesa, tibetana, mongol, sei lá o que é que eu me sinto.
Sinto-me estranha quando falo português com um português (do Brasil) e essa pessoa não me entende!

Quando alguém me diz uma coisa que não entendo (ou não escuto), costumo dizer: Importas-te de me explicar como se eu fosse uma criança de 5 anos? Ou confesso, com uma certa dose de frustração: Não entendi. Certamente tu não tens culpa, eu é que não fui capaz de entender, podes dizer-me outra vez?...

Não sei. Há formas de comunicar próprias de cada país e de cada cultura, por certo.
Aqui, no Brasil, um “Oi?” pode querer dizer simplesmente “O quê?” mas a mim soa-me sempre a: ”tu falas muito esquisito, não entendi nada”. Pergunto-me se sou eu que tenho a mania da perseguição ou se quem fala comigo coloca a origem do problema mais na minha boca do que nos seus próprios ouvidos.
E é frustrante! Não porque eu não saiba abrasileirar o meu português. Não porque eu me importe de repetir, se alguém não ouviu, ou de explicar por outras palavras, se alguém não entendeu o que disse.
Nada isso. O que a mim me incomoda (e pode perfeitamente ser uma sensação de inferioridade ou de superioridade o que sinto) é a atitude na pergunta: “oi?” e o silêncio mortífico que lhe sucede.

E, há dias, em que das duas uma:
Ou desejo convictamente que o esperanto seja a língua universal capaz de unir todos os povos no mesmo sorriso aberto;
Ou que a comunicação dos olhares seja suficiente para o entendimento universal.

Melhores dias virão!

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