Eu
nunca senti nenhuma atracção pelo povo brasileiro. Atrai-me, no entanto, a obra
do povo; a sua música, a literatura, a dança... Consigo apreciar a beleza
estonteante das paisagens que compõem o Brasil, admiro a alegria do sangue
africano e indígena que lhes corre nas veias e gosto de ver junta a bela
mistura de culturas que convivem no país.
Desta
vez, calhou-me conhecer gente que veio para contrariar as minhas experiências
anteriores. Em boa hora! Saravá Casa dos Açores do Rio de Janeiro! Fico, a
partir de agora, com vontade de voltar ao Brasil e adentrar-me no que vale a
pena!
E
não há bela sem senão.
O
que continua a deixar-me boquiaberta e quase desesperada é quando, no final de
uma frase minha, quando faço o inevitável silêncio que aguarda uma resposta d@
interlocutor/a, ouço: Oi?
E eu
pergunto, primeiro para dentro franzindo o sobrolho, depois para fora deixando
sair a voz: Oi?
E a
minha pergunta quer dizer e não diz. Quer dizer: onde é que o meu português não
consegue encontrar-se com o teu, podes explicar-me? O que é que não entendeste
mesmo? Uma palavra? A frase inteira? Não entendeste nada de nada?!
E
sinto-me chinesa, russa, polaca, japonesa, tibetana, mongol, sei lá o que é que
eu me sinto.
Sinto-me
estranha quando falo português com um português (do Brasil) e essa pessoa não
me entende!
Quando
alguém me diz uma coisa que não entendo (ou não escuto), costumo dizer:
Importas-te de me explicar como se eu fosse uma criança de 5 anos? Ou confesso,
com uma certa dose de frustração: Não entendi. Certamente tu não tens culpa, eu
é que não fui capaz de entender, podes dizer-me outra vez?...
Não
sei. Há formas de comunicar próprias de cada país e de cada cultura, por certo.
Aqui,
no Brasil, um “Oi?” pode querer dizer simplesmente “O quê?” mas a mim soa-me
sempre a: ”tu falas muito esquisito, não entendi nada”. Pergunto-me se sou eu que tenho a mania da perseguição ou se quem fala comigo coloca a origem do problema mais na minha boca do que nos seus próprios ouvidos.
E é
frustrante! Não porque eu não saiba abrasileirar o meu português. Não porque eu
me importe de repetir, se alguém não ouviu, ou de explicar por outras palavras, se alguém não entendeu o que disse.
Nada
isso. O que a mim me incomoda (e pode perfeitamente ser uma sensação de
inferioridade ou de superioridade o que sinto) é a atitude na pergunta: “oi?” e
o silêncio mortífico que lhe sucede.
E,
há dias, em que das duas uma:
Ou
desejo convictamente que o esperanto seja a língua universal capaz de unir
todos os povos no mesmo sorriso aberto;
Ou
que a comunicação dos olhares seja suficiente para o entendimento universal.
Melhores
dias virão!
Sem comentários:
Enviar um comentário