Creio
que, já há uns anos, me surgiam pensamentos comparativos entre os Açores e o
Uruguai. Talvez valesse a pena consultar a etiqueta Uruguai deste blogue, mas
ainda assim, o hoje é o que resulta do que vi e vivi no ‘ontem’.
Hoje,
detenho-me a olhar para um país com 3 milhões de habitantes (metade dos quais
vivem na capital), com uma área territorial igual ou superior à de Portugal,
plano (o ponto mais alto ultrapassa pouco os 500 metros), com uma grande
extensão de costa e uma baixíssima burocracia. A geografia talvez afecte a
horizontalidade das relações – penso. Sempre em frente, olhos nos olhos, não há
que escalar montanhas nem a necessidade de escorregar do cimo do monte. Olho
para a rapidez com que consigo uma reunião com ministros, directores, sub-directores
de ministérios, embaixadores, etc etc etc e pergunto-me:
- Porque
burocratizamos tanto, lá do outro lado do mar? Será que emburrecemos, de facto,
com o peso da história a corresponder ao peso da independência? A independência
de Portugal tem 8 séculos. A do Uruguai ainda não tem 200 anos. A autonomia dos
Açores quantos anos tem?
Pergunto-me
se, em democracia, não deveria ser sempre assim simples o acesso e o encontro
entre cidadãos/ãs e as pessoas (por nós eleitas) que ocupam cargos de maior
poder político.
Simples,
rápido, eficaz.
Se
se faz num país com 3 milhões, porque não se faz numa região com 260 mil
pessoas?
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As
encadernações térmicas são caras. O café é caro. O salário mínimo é
praticamente igual ao nosso (ou mais elevado). A cerveja bebe-se ao litro
(partilhada entre várias pessoas) e uma delas tem nome de mulher. Estão 21
graus em Montevideo, 83% de humidade. Sinto-me em casa. A cidade tem a mesma
luz de Lisboa. A ciudad vieja é muito
bonita e o mar está sempre a meia dúzia de quadras
(quarteirões) ou menos. A senhora da loja de ferragens, onde tenho que comprar
uma ficha adaptadora para o meu computador, nunca esteve em Cabo Polónio. Eu
vivi lá 2 meses e filmei um documentário. A subdirectora do Ministério de
Relações Exteriores (correspondente aos nossos Negócios Estrangeiros) não sabia
que São Carlos tinha sido fundada por açorianos e cumpria já 250 anos de vida,
mais do que a independência do país. A sua confissão revela uma humildade e
honestidade raras vezes vista em pessoas que ocupam aqueles cargos políticos.
O encargado de negocios da Embaixada de Portugal (cargo que substitui, aqui, neste
momento, o de embaixador) chegou, pela primeira vez, anteontem (não, não era
mentira de 1 de Abril!), ao Uruguai. Hoje, recebe-nos em audiência.
O
director de programação do Teatro Solis é argentino e deixou-nos as portas bem
abertas naquele teatro (corresponde a um Teatro Nacional, em Portugal ou em
Espanha) para integrar o nosso espectáculo na “Montevideo capital
iberoamericana de la cultura” até Março de 2014.
O
fainá é delicioso. O mate é inevitável. As pessoas são encharcadas em
amabilidade, quando nascem. Merecem ser gostadas, claro!
Os
olhos abrem-se mais do que é costume, com muita regularidade. Esse movimento
combate o aparecimento de rugas. As velhas são sempre bonitas!
Os
cafés são lugares de encontros, solidões e cultura para ser vividos horas sem
fim.
Os
carros com mais de 60 anos ainda circulam e os topo de gama também convivem com
estes.
As
mercearias, restaurantes, supermercados, gelatarias, pizarias fazem entregas ao
domicílio sem custos adicionais até à 1h da manhã.
As
pessoas mais pobres são responsáveis por fazer a reciclagem no país. Com uma
carroça puxada por um cavalo ou simplesmente com um carro de mão, recolhem das
portas das casas e junto aos contentores, os papéis, cartões e plásticos
separados e limpos por quem os deita fora, que vendem, depois, nas fábricas de
reciclagem.
Peço
um café en taza no El Candil em
Paraguay esq. San José. Chega-me um tabuleiro com o ‘meu’ café, acompanhado de
1 copo de água, um copo de sumo de laranja, uma noz de natas, uma taça de
pipocas, um caramelo, duas tacinhas (uma com canela em pó, outra com cacau em
pó), um bolinho em miniatura. Consuma tudo ou nada, o café custa sempre o
mesmo. É o carinho que vem de oferta. Pequenos gestos, em todos os lugares, que
nos convidam a regressar ou nos levantam a curiosidade para descobrir outros
cafés.
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Ontem,
a folha de um plátano voou e entrou pela janela a beijar-me a cara, no bar 36.
Pousou no teclado do computador onde eu falava com um amor.
Os
momentos simples vestem-se de magia e enchem-se de uma sensação de alegre
surpresa.
Chuviscava. Depois chovia. Um homem, a pé, puxava uma
mangueira de água ligada a um camião cisterna que passava lento. O homem lavava
as ruas e a chuva lavava-o a ele.
Depois, a noite afundou-se na tempestade. Os relâmpagos não
paravam de se suceder. Os trovões ressoavam nas ruas como bombas. Umas perto.
Outras longe. Chovia muito. E nós, eu e os outros, caminhámos de mini-saia (ou
calções) e manga curta.
Ninguém corria debaixo de água. Ninguém usava
chapéu-de-chuva.
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