sexta-feira, 30 de abril de 2010

nada é por acaso, eu bem digo!

"Los Dragones, o deidades de los elementos para oriente, representan la personalidad más completa del horoscopo chino, sumando virtudes que los ubica como seres poderosos y el poder o la fuerza serán una consigna para el 2010, no en referencia a dominar a otros, sino a la fortaleza individual."
Eu palhaça e clown está de volta.
Se não fosse por mais nada, pelo atelier que estou a fazer esta semana já teria valido a pena ficar aqui!
Está a correr-me muito bem. A minha criatividade está ao rubro.
O nariz assenta-me que nem uma luva... no nariz.
E para amanha, que é o último dia... lançaram-me o desafio de criar duas situações, uma para cada uma das frases:
1. "El clown es transparente. Sus intenciones se ven incluso cuando intenta engañar."
2. "El clown no busca problemas, se los encuentra constantemente."

Ai, desafios difíceis!!! E por isso bons!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

25 de Abril em Cochabamba

Foi lindo. Foi à noite. Eu contei uma história e as pessoas ouviram, e admiraram-se. (juro que nao inventei nem romanceei muito!!!).
Obrigada Nayra por abrires a tua "casa"do cinema onde o copo de vinho é tao bom e vem sempre cheio de tantas conversas!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Chegaste de novo com a lua cheia!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Cumpro!

O presidente Evo Morales tem um slogan de campanha e mandato que é:
Evo cumple, Bolivia cambia!

O colectivo feminista e anarquista Mujeres Creando, atento e crítico, desejando outras mudanças, criou o slogan:
Bolívia cumple, Evo cambia!
Eu tenho o meu próprio caminho, memória de imagens sem slogan...

plantando a árvore Pacai, 22 abril 2010. Parc El Niño - Cochabamba, Bolívia.

que me llamas que no te oigo?
igual no me estas llamando
pero que voz es esa la que escucho?
que suspiro?
que murmuro de olas?
eso que escucho...
espera
me silencio
callo mi corazón
que por hora
no me deja oír lo que dices.
espera.
te oigo.
oigo algo.
alguien.
eres tu?

uma semana nova se inicia...

aprender, aprender, aprender...
fazer, fazer, fazer...
nao prometer, que prometer é já ser!

Na próxima semana vou:
  • participar num atelier de risoclown dirigido por Julieta Sagûes, madrilena, no mArtadero
  • dirigir/ajudar o Ariel a criar um novo número de clown para um Festival
  • começar a filmar o doc do proyecto manillas (pulseiras) para a PL difundir pelos EEUU
  • ensaiar com criançada o espectáculo Agua Conmovida e começar a construçao de adereços e cenografia
  • gravar os textos para Mai@s - um povo novo

Sim, a próxima semana avizinha-se mais um teste à minha capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Para além do descrito, há uma infinidade de coisas que sou e que me escuso a confessar aqui... ehehe!

sábado, 24 de abril de 2010

25 de Abril


Hoje vou contar uma história na Bolívia! Vou contar como se fosse para crianças... que essa é talvez a melhor forma de nós, pessoas adultas, entendermos com simplicidade o que se passou e o que ainda está por acontecer: a história de uma revoluçao num país onde ainda se procura a liberdade!
Vou contar a história do 25 de Abril. Recolhi cançoes, poemas, levarei a flauta e há-de haver Grândola, recolhi 2 filmes, muitas fotografias e cartazes. Compro novamente um ramo de cravos vermelhos! Comparto. Reparto. Partilho.

Hoje, depois das 21h (hora Bolívia) o 25 de Abril de Portugal vive-se aqui!*
Porque "a liberdade está a passar por aqui" e "a poesia está na rua"!

* El CineArte 35 mm está en la calle Teniente Arévalo Nº 154 entre Ballivián y Baptista (lado Banco Bisa), Cochabamba.Telef.: 4526750

Sophia de Mello Breyner, em espanhol...

Si todo el ser al viento abandonamos...

Si todo el ser al viento abandonamos
Y sin miedo ni compasión nos destruimos,
Si morirnos en aquello que sentimos
Y podemos cantar, es porque estamos
Al desnudo, el propio dolor meciendo en sangre
Frente a las madrugadas del amor.
Cuando la mañana brille otra vez floreceremos
Y el alma beberá ese esplendor
Prometido en las formas que perdemos.

Versión de Diana Bellessi

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pablo Neruda (poema LXXXI)

(...)
y ya no soy sin ti sino sólo tu sueño.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Obrigada, António



Os dias ficam mais belos quando recebemos notícia de alguém. Boas novas e dias futuros! Obrigada. Hoje, queria mesmo dizer estas palavras...

Dia Mundial da Mae Terra

Walter Solón Romero

Foi proposto pela Bolívia, no ano passado, e aprovado pela ONU.
Hoje é o Dia Internacional da Mae Terra (ou Pachamama). Porque ela, infelizmente, por nao estar bem precisa ser lembrada...
É como as mulheres, as crianças, o mar, os direitos humanos, etc etc etc...
Celebramos e dedicamos dias para lembrar... para despertar...

"Porque é chegado o momento de entendermos que a Terra nao nos pertence, nós pertencemos à Terra". (Evo Morales)

Hoje, vamos plantar uma árvore.

toma (+ um excerto)

Pessoas






Há pessoas que vivem vidas muito estúpidas e nao encontam em si força ou coragem para mudar.

Há pessoas que passam os dias a culpar quem as rodeia por tudo o que nao conseguem fazer das suas vidas.
Há pessoas que estao desesperadas, os corpos em febre, a cabeça sem luz, ficam roucas de tanto prender as lágrimas!
Há pessoas que estao bem perto e nao conhecem as palavas para pedir ajuda.
Há pessoas...
Estar em relaçao é o que nos torna os dias mais felizes.
Também é o que nos torna os dias mais doces e mais amargos, doridos ou desesperantes.
Por isso, nesta caminhada que é o mundo, nos encontamos com pessoas e nos relacionamos. Assim é.
Ontem, bem perto de mim, uma mulher bonita tentou pôr fim à sua caminhada. Nao conseguiu.
Ainda a abracei, no fim da noite.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

noites difíceis

pois é... a `profissao´ amiga, boa onda de pessoa e disponível para a vivencia da aceitaçao de tudo o que me rodeia e sucede na vida transforma-me agora em mediadora de conflitos.
a ver vamos como sobrevivo desta missao...

terça-feira, 20 de abril de 2010

A utopia e a funçao da arte

A UTOPIA
¨Por muito que caminhe, nao a alcançarei.

Para que serve a utopia? Serve para isto, para caminhar.¨

A FUNCAO DA ARTE
¨Diego nao conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o a descobri-lo. Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava mais para lá das altas dunas, à espera.
Quando o menino e o seu pai chegaram aos cumes de areia, depois de muito caminhar, o mar estalou diante dos seus olhos. E foi tanta a intensidade do mar e tamanho o seu fulgor, que o menino emudeceu da beleza.
E quando, por fim, conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Pai, ajuda-me a olhar!¨


Eduardo Galeano traduzido meio livremente por mim

segunda-feira, 19 de abril de 2010

ecos de Lisboa, do Panorama

encontro marcado, feb.2010 (foto mariasimoes)

Uma diz-me que: 'bonita, muito, a mulher nua e o seu olhar de câmara'
A outra que: 'ontem estive contigo no mar
' e que 'continue a remar, descalça'...
É muito bom receber ecos do 'Mais um dia à procura', estreado ontem às cinco da tarde, na hora do chá, na longínqua Lisboa. É a minha forma possível de ter estado lá.
Obrigada por terem estado comigo. Eu seguirei filmando e plantando o meu olhar!

domingo, 18 de abril de 2010

budismo e taoísmo... reconhecendo os meus ismos!

Sou uma mulher reliogiosa? Espiritual, sim. Abraço em mim conceitos e formas de olhar de movimentos filosóficos e espirituais do mundo e converto-os numa minha maneira de ser. Há coisas que, com a idade, se vao tornando cada vez mais claras e inequívocas. Aqui ficam alguns pensamentos derivados de ter aprofundado o estudo a partir de Buda e Lao Tse e os misturar na minha cabeça, no que sou e no que creio.
Eu nao sou nada. Sou as ondas que propago quando existo. Sou o que provoco com o meu movimento. Para mudar o mundo, tenho que percorrer um caminho que é meu, o de me aproximar cada vez mais de mim, da minha essencia, aproximar-me de silenciar a mente, o pensamento e o ruído, de amar todas as coisas, encontrar-me com a paz e da serenidade ... A quietude nao é estar parada, é fluir com a energia e o movimento do mundo. Assim, quanto mais me encontro em relaçao, mais me encontro. Mais próxima de mim estou.

"Há um tempo para semear e outro para colher", há um tempo para falar e outro para calar, até nas relaçoes há um tempo para nos aproximarmos e outro para nos afastarmos. Viver em harmonia com essa sensibilidade é sentir e fluir com o pulso da vida.
Quando nos apegamos ao que nasce e morre, vivemos em sofrimento. O caminho é o de (re)conhecer que em mim existe algo que nao nasce e nao morre. É o que é. Aqui e agora. E disso quero aproximar-me.

"A única forma de transformar o mundo é agir localmente (ou pessoalmente) com uma inspiraçao global." - Isto faz-me todo o sentido no que sou e no que quero seguir procurando e sendo.
"Nao te preocupes tanto com o que ou quem és. Preocupa-te antes com o efeito que causas no mundo, porque isso é o que tu és." (Lao Tse)

Palavras-chave no Taoismo: Harmonia, Desapego, Sabedoria, Simplicidade, Humildade, Silêncio, Natureza

sábado, 17 de abril de 2010

Ciclo de Cinema "Cambio climatico"

Tenho ido, todos os dias desta semana, assistir a um ciclo de cinema sobre `cambio climático` no já habitual CineArte35 mm.
Ontem, ao fim de 3 dias de cinema deprimente, ... reduzi-me a concordar com o título do filme.
Vivemos, de facto, uma era da estupidez nos dias que correm... é que se dentro de 40 ou 50 anos a espécie humana estiver extinta, das duas uma, ou é porque conscientemente somos mesmo gente estúpida ou entao é porque, de algum modo mais ou menos religioso, pensamos que nao merecemos ser salvos/as!
Enfim... há coisas sobre as quais é melhor nao pensar muito e actuar bastante, ou q.b.
Actuar localmente, pensar globalmente continuam a ser palavras de ordem!

"Tinhamos a missao de deixar o mundo melhor do que o havíamos encontrado. Isso era o progresso. E o que fizémos, afinal?" (pergunta o protagonista e narrador no filme: "The age of stupid", UK 2009 que decorre em 2045)

subsídios para a cultura nos Açores VII

manifesto sobre liberdade artística e mecenato cultural

Partir ou ficar

sao verbos de acçao. Daí que, para mim, é tudo uma questao de perspectiva ou ponto de vista. Se estou parada, tudo o que se moveu partiu, foi-se embora. Se estou a caminhar, o que está longe ficou, parou. Por isso (e por outras coisas também) escrevo todos os dias um blogue de viagem, para o poder visitar nos dias em que me assaltem as dúvidas sobre se estou parada ou a caminhar. Por isso escrevo coisas que vejo, penso, sinto e vivo. Na certeza (ou construindo a possibilidade) de que quem me acompanha nao ficou parado. Caminha comigo. Ou sem mim. Caminha também.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

o peso que o mundo tem

Acordei com o peso do mundo nos ombros, desconheci a sua origem, o seu lugar, a sua pertença.
Mas pesava bastante o mundo inteiro!
A sorte é que continuava a girar esse mundo... nao sei se corria a favor ou contra o tempo do relógio. Nao o parei. Segui-lhe os passos... e pelas cinco da tarde, um café e... se esfumou de rodar...
Creio que o mundo se transformou num balao... nas minhas maos! Nao o vi. Desconheço a sua cor, a sua forma... conheço-lhe o cheiro, o peso que tem...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Crianças vao ao teatro

Levei os meus meninos e as minhas meninas, hoje, pela primeira vez nas suas vidas, ao Teatro.
Fomos 9 num taxi. Vimos "Bicentronário" apresentado pelos companheiros do Teatro Trono - Cochabamba, no CEPJA.
As cadeiras eram muito grandes e impediam-nos de ver o que se passava da cintura para baixo de quem estava no palco, o restante público era de jovens com uma média de idades bem superior a nós (assim, eramos os/as mais pequenit@s da sala, no meio da adolescência rebelde que ouve música alta voz nos telemoveis cruzados), havia um martelo a martelar uma parede no piso superior ao palco, que muitas vezes nos dificultou a escuta, o técnico de som andava um bocadinho aos papéis com os volumes e os feed-backs...
Mas...
mas...
há mas que sao muito gostosos...
A Letícia, a Rosío, a Fausta, a Giovanna, o Cristian, o Alfredo (ao meu colo), a Maribel e a companheira Natalí... nao pestanejavam, esgueiravam-se nas cadeiras para espreitar melhor, seguramente nao entenderam grande parte da história (que era bastante histórico-narrativa) mas... estavam lá.
Perguntaram, no final: cuando vamos a volver a ver teatro, María? Mañana?
Ri-me. Disse-lhes que sim. Vou procurar que vejam muito teatro enquanto eu cá estiver.
Sabe bem. Sabe muito bem.

Cimeira dos povos

Pois é. Vou estar na Conferência Mundial dos Povos sobre as Alteraçoes Climáticas e os Direitos da Mae Terra. Ou seja, a Bolívia está a organizar esta cimeira mundial porque o acordo de cavalheiros de Copenhaga deixou tanto e tanto a desejar... Porque foi um verdadeiro fracasso a Cimeira Mundial realizada em Dezembro último no velho (e tonto?) continente.
"Este vai ser um fórum alternativo" - disse Evo Morales aquando da convocatória mundial.
Para além de eu estar a preparar isoladamente uma palhaça acçao de rua relativa ao assunto (porque está muito bem que se organize este encontro mas está muito mal a forma como a própria Bolívia às vezes trata a Mae Terra ou Pachamama... ), já me inscrevi para estar presente na Conferência Mundial onde se esperam milhares de pessoas de todo o mundo, entre personalidades e organizaçoes sociais e políticas, governamentais e económicas, algumas com responsabilidades muito grandes no que se refere por exemplo às emissoes de CO2, às generalizadas alteraçoes climáticas ou ao aquecimento global. Espera-se a presença de Al Gore (hoje voltei a rever "An inconvenient truth" mas já está confirmada a presença de Eduardo Galeano... A mim, uma das coisas que me atrai é que a Bolívia vai apresentar um projecto de "Declaración Universal de los Derechos de la Madre Tierra". Vai-me dar muito prazer levantar o braço para a aprovar, por mais que, nos dias que corram, eu acredite cada vez menos na democracia!
Mais de 240 organizaçoes internacionais vao estar presentes. Alguns movimentos de gente atè aqui sem voz vao poder cantar suas lutas e crenças... Uma curiosidade: de Portugal parece que nao chega ninguém... pobre país pobre!

Para saber mais... ou para marcar presença, regista-te aqui e vem até cá!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Às vezes, parece que nunca saí dos Açores... Acabam de me dizer a palavra Furnas e eu... fui! Como o cao do Pavlov... já estava na Poça da Beija...
hummm, bom o banho... linda a lua. Mágica.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A música

marca momentos especiais da minha vida e seria possível compilar uma banda sonora dessas cançoes que me fazem rapidamente viajar até um certo momento, dia ou lugar do passado. Olhar para esse "atrás" sabe-me bem e afirma-se uma vida de passos acertados e justos caminhos percorridos.
Hoje, pela primeira vez, passado e presente se conjugam numa mesma música que marca um fim e um início.
É estranho e muito interessante perceber as intersecçoes dos caminhos, as cores que se misturam quando a alma se encolhe e engrandece.
Holly Cole está a cantar-me ao ouvido este momento da vida.

Dia da Criança

Hoje é o dia da criança na Bolívia. Declarado pela OEA (Organización de Estados Americanos) e pela Unicef em 1952 como o dia para celebrar a infância mas sobretudo para recordar os direitos das crianças, este dia é comemorado hoje nao só com festejos "folclóricos" com palhaços de caras pintadas a oferecer juguetes e espadas feitas de baloes, mas também com números:
  • mais de 1000 crianças vivem nas prisoes da Bolívia
  • centenas de milhares de crianças vêem-se obrigadas a renunciar à educaçao e protecçao de um lar para enfrentarem a vida trabalhando (muitas vezes em condiçoes humanas deploráveis)
  • nao há dados oficiais sobre os maus tratos a crianças na Bolívia

O presidente do Estado Plurinacional Boliviano, Evo Morales, escreveu hoje às crianças do país: "(...) Deseamos que sus sueños, sus ansias de justicia, de igualdad y de solidariedad nos contagien a los mayores ayudandonos a construir un mundo mejor."

Pois sim, coraçao... O que me diexa céptica é pensar que esta Declaraçao tem mais de 50 anos e os números continuam a aumentar... e nao sao os números bonitos... Releio a Declaraçao dos Direitos da Criança e fico confundida. O Estado só tem deveres em relaçao à Educaçao e ao acesso à mesma. Os municípios só têm deveres no que se refere à criaçao de zonas de lazer, cultura e desporto. Vai daí que... Nao quero pensar mais nisto!

foto retirada de: www.elespectador.com

(para pensar mais... ler: http://www.opinion.com.bo/12/04/2010/los-ninos-y-sus-derechos/)

pintura de Alejandra Alarcón

A companheira Alejandra Alarcón pintou recentemente uma aguarela inspirada pelos mesmos sentimentos que me levaram a escrever "O meu corpo". Pedi e ela, feliz, disse que sim... que eu podia juntar a sua pintura ao meu poema...
É muito bom quando as cumplicidades artísticas se juntam para criar algo novo!
Obrigada Alejandra! De certeza que vamos ter uma grande semana!

domingo, 11 de abril de 2010

o medo

descobri, há pouco, é um bicho a quem temos que dar nome. É a única forma de ele se assustar e fugir para longe. Assim, o medo tem medo do medo quando o tratamos pelo nome. Sem mais!
Dois nomes de medos que tenho sao a loucura e a violência.
Chamo-lhes nomes. trato-os por tu... e fogem. Têm fugido.

sábado, 10 de abril de 2010

o meu corpo

naciendo de la herida - aguarela de Alejandra Alarcón

O meu corpo
guarda um mapa
de todos os passos que dei

uma cicatriz da ermida

outra dos açores
as estrias do final da adolescência

um dente da bolívia

o coração é um puzzle de memórias

e emoções

de amor e de outras coisas
que não guardam palavras

o olhar teima contemplar

as pegadas

e procurar o caminho novo

Assim sou
um corpo marcado pela viagem

de tudo o que

vivi

vivo

sou.

Pedaços e riscos que, juntos,

mês após mês,
se renovam
regeneram
e entranham na terra

mãe

e lua


manifestamo-nos

Talvez seja por estar neste continente, talvez seja porque estou a ficar mais madura, talvez seja porque respiro cada vez mais justiça, amor e liberdade como ideais que hoje me sentei a tomar um delicioso café duplo, com a cabeça apertada de pressoes e injustiças, sentindo tolhida a minha liberdade e a das companheiras descalças que ... nasceu um primeiro manifesto.

Depois, namorei o sol da hora de almoço com uma reveladora revista entre maos. Um achado cada palavra, cada imagem, cada pensamento. Entre as só coisas interessantes, encontrei:
"La creatividad es un instrumento de lucha,
El cambio social es un hecho creativo
Y la acción creativa es una acción política" (María Galindo)

É exactamente por isto que eu estou com a arte entre os poros da pele e nao sei respirar de outra maneira. É exactamente por isso que estou a chegar a uma idade em que deixo de aceitar certas coisas. É exactamente por tudo isto que sei que nao estou errada!

Espero

viver hoje
os dias do presente
sem ter que envelhecer
para que o amor

se chegue

querendo-me dentro



Hamaca Paraguaya é o filme de Paz Encina que vi ontem à noite, sozinha na sala 3 da Cinemateca Boliviana... e, seguramente, nao teria deixado aquela sala se nao me tivessem obrigado.
O filme tem no máximo 10 planos. Dura 78 minutos de poesia, beleza, paz e é todo falado em guaraní. Eu contemplei, fui cúmplice, fui surpreendida, fui meiga a sorrir...
e quando voltei a casa, fi-lo sem medo da noite, da cidade ou do próprio medo!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Te vi

há anos que esta música me persegue...
em dias que nao têm porquê.
em espaços que nao têm onde.
como quando nao se procura ninguém...
e se vê, ao longe, alguém!



a música, que se chama "Un vestido y un amor" é do rockeiro e louco argentino Fito Paez mas como nao podia deixar de ser... o Caetano canta-a muito melhor!
Quando escolhi este continente, quando, depois, comecei esta viagem, sabia que o movimento social era o que me trazia a atravessar todo um gigantesco oceano, onde para trás ficavam todas as certezas.
Hoje confirma-se que, aqui, o que há a aprender é precisamente essa forma como, longe de partidos, de política ou de organizaçoes governamentais, as pessoas trabalham juntas para construir outro mundo. Mas estas coisas, como eu desconfiava, nao se ensinam, nao se aprendem. Praticam-se. Entranham-se na maneira de ser e estar. Sao cultura. Sao transformaçao. Sao visao de futuro. E isso, ou se tem ou nao se tem!

Cinema boliviano

segunda-feira, entre chegada de Toro Toto e partida para La Paz.
Cementerio de los elefantes
Pois é,
é um dos melhores filmes do cinema boliviano. Sentada ao lado do realizador Tonchy Antezana, naquele lugar que é um lugar perfeito, em Cochabamba, a 300m de casa.
E se já haviamos falado de meu "Mais um dia à procura" passar cá, promovendo-se no final uma conversa com a presença da realizadora, agora surge a vontade de promover nos Açores um ciclo de cinema boliviano ou uma mostra dos filmes deste cineasta que já é um amigo.
Que sorte, que privilégio... que lindo eu ter ido morar ali, ao lado do CineArte 35mm...
Na segunda-feira passada... engoli em seco muita coisa no final do filme. Fiquei petrificada. Estava a 1h30 de entrar no autocarro rumo a El Alto, La Paz, local onde se passa a acçao do filme. Arrepiei-me. Tive medo, pela primeira vez, angustiei-me... O Tonchy deve ter sentido as minhas lágrimas escondidas e apenas me disse:
- Fuerte, no?
Acenei que sim com a cabeça...
- Pues, cuida te, allá!
E, já em La Paz, ontem, outro filme... ou seja, exactamente o outro lado do cementerio de os elefantes. Zona Sur. A mesma angústia, o mesmo arrepio, o mesmo medo... Saio do cinema à meia-noite. As ruas nao sao muito iluminadas, nao sei onde apanhar um truffi, os taxis vao seguramente enganar-me, caminho pela cidade colocando dezenas de rosas na visualizaçao do meu caminho e nos bordes da minha redoma. Ninguém me fala, ninguém me vê. Entro no Truffi. Subimos a El Alto. Sou muito pequena e magra entre os dois homens que vao adormecendo no banco de trás da viagem.
Chego, por fim, à cama! Paz.
O cinema boliviano está muito bem, mesmo!


La Paz

graffiti de Mujeres Creando
Hoje, durante o almoço de longas palavras diz-me a Idoia, da inspiradora Mujeres Creando fundada pela bestial Maria Galindo, que "La Paz é provavelmente a única cidade no mundo onde os ricos vivem em baixo". Assim, El Alto se constitui como uma gigantesca e potente panela de pressao, descomandada e explosiva bomba relógio. Em El Alto concentram-se mais de 700 ONG's (organizaçoes nao governamentais) que, a par de igrejas e outras associaçoes, chupam para si milhoes de dólares ou pesos bolivianos no intuito de actuar naquela zona de extremas problemáticas sociais sem que nada, de facto, produza mudanças ou transformaçoes na vida das pessoas que mais necessitam (isto recorda-me algo, nos Açores...).
O microcrédito parece ser uma verdadeira fraude aqui. Há instituiçoes que estao a cobrar uns escandalosos juros de mais de 40%... Resultado, quem é pobre enforcado fica!
Enfim, uma manha nas ruas da cidade (sem ainda marear... acham-me anormal...), um almoço de encontro, confissoes e vislumbres. Uma tarde na "Virgen de los deseos", nao uma casa senao A casa. A utopia tornada realidade. O apoio às mulheres. A luta pelos direitos de três grupos descriminados: índias, putas e lésbicas. O feminismo activista. A arte como ferramenta. As acçoes de rua mais do que "sermos artistas". Uma série de vídeos e documentários de arrepiar. Uma rádio temida que emite, da casa, 24horas por dia. As palavras acertadas, justas, audazes, corajosas. Graffitis em todo o país. Acçao há quase 20 anos em todo uma Bolívia, continente, mundo.

"- Y sabes, María... Nosotras no recibimos así toda las personas..."

Imagino que nao. Agradeço. Sinto-me honrada, privilegiada, orgulhosa. Espero retribuir o que recebi hoje de todas as mulheres e ar que respirei. Assim, ficou já marcada a data da apresentaçao do "Gusto de Ti*" na Virgen de los deseos, bem como 2 oficinas de teatro: uma para mulheres e outra para crianças!

* o título do espectáculo Gojto de Ti traduzido para espanhol perde o trocadilho da oralidade escrita (que resultava em açoriano) mas ganha um outro sentido que é o do gosto ou sabor... a ti!

terça-feira, 6 de abril de 2010

El Alto, La Paz

Cheguei hoje às 6h da manha. É uma hora de luxo para chegar a qualquer lugar. Tudo comeca, é como ver o início de tudo o que se quer ver iniciar...
Estou na cidade mais alta do mundo! Na calle de la cultura, en El Alto, La Paz. Nao me custa respirar, nao. E ainda nao coquei... (buáaaa)
Uma calle de la cultura é uma rua peatonal, proposta e criada pelos vizinhos da própria rua, construída por suas maos e com a doaçao de materiais pela vizinhança. Os muros das casas ou as paredes foram pintadas por artistas voluntariamente. A meio da rua há a casa do COMPA - Teatro Trono. Hoje já fui apanhada para uma grande entrevista para um programa de rádio que divulga, entre outros feitos, o trabalho de mulheres artistas. Fui apresentada e entrevistada enquanto isso... seja lá o que isso for... de palhaca e de louca... O programa passa na próxima terca-feira.
Na rua paralela
à calle de la cultura fica o centro vecinal (da vizinhanca, portanto) onde vou dar a oficina de teatro e clown. Ao fundo, fica o mercado. Hoje, passei o dia sem querer sair deste entorno...
Estranho isso em mim...
Por isso, amanha as sete da manha, descerei
à cidade de La Paz... vou percorrer a cidade a pé e encontrar-me com a Mujeres Creando (uma organizacao de mulheres artistas feminista).
Entretanto, voltei a emocionar-me com as pesquisas clownescas, enquanto assistia
à oficina que duas companheiras de luta artística do Quilombo Teatro (Argentina) estao a dar aqui... É muito bom encontrar gente que compartilha ideais, sonhos, utopias... (aliás, a entrevista demo-la as trës em conjunto) ... mas estou com a cabeca a mil e sem cedilhas nem til!
Está muito frio aqui, à noite, porque as nuvens estao muito mais próximas de mim e nas núvens há gelo...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O céu

da Bolívia é realmente belo, luminoso, de um azul que nao há.
O céu é entao mais belo quanto mais perto do céu está.

O céu é como as pessoas.
As pessoas sao como o céu.

Toro Toro

Estive os últimos quatro dias em Toro Toro. Para além da tranquilidade e da paz respiradas no pueblo, fiz dezenas de kilómetros a pé pelo parque natural, tomei banho no rio (todos os dias!), entrei de capacete, botas e lanterna na caverna de Humajalanta (que em Aymara quer dizer "onde a água se perde") que tem 50 metros de profundidade e 7 km de extensao (estando disponível para visitantes apenas 1km). Lá dentro, debaixo da terra, rastejei, desequilibrei-me, encolhi-me, escorreguei por uma rocha cheia de lama, fiquei sem luz na lanterna, vi os peixes cegos (únicos no mundo), voltei ao equilíbrio. Estive no interior da terra e isso é muito impressionante!
Coloquei os meus pés (calejados) ao lado de pegadas de dinossauros com mais de 60 milhoes de anos, vi montes de fosseis marinhos... Uau, aqui havia mar!
Conheci Don David Gonzales que fez 82 anos no sábado e andei de braço dado com ele. Conheci Don Augusto (do único telefone no local) que me contou em portunhol do Brasil que os homens choram. Conheci o Johnatan (o mais lindo aprendiz de guia do parque) que me fez pensar de novo no filme "Diarios de Che Guevara" (e no pequeno em Machu Pichu distinguindo as pedras e as construçoes dos incas e dos incapazes - os espanhóis) e que quer ser paleontólogo quando for grande. Conheci a Roxana e passei-lhe para a mao a minha máquina fotográfica! Conheci a Vânia que, de uma rara beleza, posou e me pediu que a fotografasse...
Enfim, escrevi bastante. Sonhei sonhos de verdade, a dormir, muito reveladores...
Telefonei ao sobrinho Francisco e a chamada foi muito difícil de estabelecer. Vi vários DVDs de sítios lindos na Bolívia por conhecer, assinei (como um registo de casamento) o livro do Parque Nacional de Toro Toro. Um velho quechua falou comigo durante mais de 15 minutos sem que eu entendesse uma única palavra do que me dizia. Sorria-lhe e dizia: "Sí, sí". Comunicavamos com os olhos e por fim olhou-me a alma com a máquina fotográfica entre nossos olhares. A foto é uma preciosidade. Descobri que se pode ter um calo na planta do pé (apenas por, com sandálias indecentes, caminhar sobre pedras e pedras de rio), mas que as minhas botas sao mesmo companheiras (apesar de estarem a precisar de um sapateiro amigo) ... Voltei a caminhar. Encontrei o Centro Integral da Mujer (que ajuda a mujer campesina) e de lá trouxe uma mao cheia de cores tecidas de inigualável beleza para os olhos e para a pele.
Conheci, sentadas as duas no rio, uma mulher que me cantou uma cançao que falava de... Santa Maria (a ilha, sim!) e de Portugal. E por falar em pele, a minha pele ficou ainda mais morena...