segunda-feira, 5 de abril de 2010

Toro Toro

Estive os últimos quatro dias em Toro Toro. Para além da tranquilidade e da paz respiradas no pueblo, fiz dezenas de kilómetros a pé pelo parque natural, tomei banho no rio (todos os dias!), entrei de capacete, botas e lanterna na caverna de Humajalanta (que em Aymara quer dizer "onde a água se perde") que tem 50 metros de profundidade e 7 km de extensao (estando disponível para visitantes apenas 1km). Lá dentro, debaixo da terra, rastejei, desequilibrei-me, encolhi-me, escorreguei por uma rocha cheia de lama, fiquei sem luz na lanterna, vi os peixes cegos (únicos no mundo), voltei ao equilíbrio. Estive no interior da terra e isso é muito impressionante!
Coloquei os meus pés (calejados) ao lado de pegadas de dinossauros com mais de 60 milhoes de anos, vi montes de fosseis marinhos... Uau, aqui havia mar!
Conheci Don David Gonzales que fez 82 anos no sábado e andei de braço dado com ele. Conheci Don Augusto (do único telefone no local) que me contou em portunhol do Brasil que os homens choram. Conheci o Johnatan (o mais lindo aprendiz de guia do parque) que me fez pensar de novo no filme "Diarios de Che Guevara" (e no pequeno em Machu Pichu distinguindo as pedras e as construçoes dos incas e dos incapazes - os espanhóis) e que quer ser paleontólogo quando for grande. Conheci a Roxana e passei-lhe para a mao a minha máquina fotográfica! Conheci a Vânia que, de uma rara beleza, posou e me pediu que a fotografasse...
Enfim, escrevi bastante. Sonhei sonhos de verdade, a dormir, muito reveladores...
Telefonei ao sobrinho Francisco e a chamada foi muito difícil de estabelecer. Vi vários DVDs de sítios lindos na Bolívia por conhecer, assinei (como um registo de casamento) o livro do Parque Nacional de Toro Toro. Um velho quechua falou comigo durante mais de 15 minutos sem que eu entendesse uma única palavra do que me dizia. Sorria-lhe e dizia: "Sí, sí". Comunicavamos com os olhos e por fim olhou-me a alma com a máquina fotográfica entre nossos olhares. A foto é uma preciosidade. Descobri que se pode ter um calo na planta do pé (apenas por, com sandálias indecentes, caminhar sobre pedras e pedras de rio), mas que as minhas botas sao mesmo companheiras (apesar de estarem a precisar de um sapateiro amigo) ... Voltei a caminhar. Encontrei o Centro Integral da Mujer (que ajuda a mujer campesina) e de lá trouxe uma mao cheia de cores tecidas de inigualável beleza para os olhos e para a pele.
Conheci, sentadas as duas no rio, uma mulher que me cantou uma cançao que falava de... Santa Maria (a ilha, sim!) e de Portugal. E por falar em pele, a minha pele ficou ainda mais morena...

Sem comentários:

Enviar um comentário