Acho que ontem dei um grande passo.
Partilhei este blogue com o Ricardo, um velho (e muito jovem) amigo que está a pesquisar cartas para criar um espectáculo sobre os Açores. Nos Açores.
E chamo-lhe "um grande passo" porque, de repente, o eu que escreve para um tu (ou vários) que lê (e são menos de 20 pessoas as que têm essa possibilidade) pode deixar de estar simplesmente a colocar a carta num envelope virtual (como tem sido até aqui) e passar a escrever para o espaço, como se as letras e as palavras fossem estrelas cadentes.
Quem as vê, pode pedir um desejo!
A pesquisa do Ricardo toca-me fundo.
Epistolar é o meu estilo preferido.
Há uns anos que escrevo neste blogue, tantas vezes dirigido para um tu absolutamente não público.
Reflicto agora sobre como esta nova tecnologia me tem ajudado, afinal, a fechar-me numa caixinha. E não sei se isso tem sido uma ajuda, se foi uma intimação, se um mal maior, se uma forma de simplesmente proteger a minha intimidade do mundo queé tantas vezes feio a lidar com os corações de quem se dá.
Tenho a tentação, de vez em quando, de colocar este blogue público.
E, ao mesmo tempo, já tantas vezes o deixei visível apenas para mim. Fechado!
No fundo, tem sido como o meu coração. Às vezes só eu vivo nele, outras vezes vivem estas 20 pessoas (se assim o quiserem e desejarem), outras vezes sonho que o mundo inteiro pode dele disfrutar, sem dores, e o pode cuidar, também, em caso de necessidade.
E é como se o meu coração que escreve fosse uma entidade exterior a mim.
Às vezes, não me compreendo.
...
continuo a escrever cartas. dou trabalho aos correios e gosto definitivamente de as receber também.
Um dia, coloquei na minha porta uma frase que dizia:
"Eu quero...
só receber cartas de amor"
Não vi a cara do carteiro nesse dia (e como gostava!), mas continuo a espreitar o seu sorriso incansável, quando me deixa, diariamente, na caixa de correio as contas que tenho para pagar.
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