Tenho tentado, por diversas formas e vezes, estabelecer regular um debate sobre política cultural nos Açores afastada de partidos políticos. Hoje penso que, independentemente do triste cenário que se está a viver no país, a discussao é, por si só, uma manifestação de maturidade, de cidadania e um exercício de plena liberdade e democracia.
Infelizmente, essa discussão não se estende aos Açores, onde a política cultural é, ainda, inexistente. E digo inexistente porque, à ausência de discussão pública se sucedem faltas de transparência nos concursos, incumprimento de prazos, indefinição de critérios, medo de manifestar opinioes, etc etc, etc.
Uma vez, quando, amigavelmente, tentei partilhar com o actual Director Regional da Cultura que o que fazemos é serviço público, que substituimos o estado na sua missão de facultar o acesso à cultura a um cada vez maior número de pessoas, quando disse que sentia que as Descalças estavam não só a não ser reconhecidas como a ser desrespeitadas pelo Governo dos Açores, o Dr. Paulus Bruno aconselhou-me a "baixar o ego".
Perdi a discussão. Perdi o chão. A conversa tomava, na sua cabeça, um rumo completamente diferente...
Eu não podia estar a falar de direitos quando a pessoa que tinha à minha frente não estava preparada para ter essa conversa.
Percebi que tinha que voltar ao início de tudo, ao início dos tempos, ao "quando os animais falavam"...
Reset. Apagar. Começar de novo.
O meu passo de hoje é uma citação de Catarina Martins para ver se, pelo menos, começamos por estar de acordo nos conceitos.
"agentes independentes são artistas, estruturas de produção, de criação, de programação cuja actividade é independente da iniciativa do estado e que são quem, no terreno, em todo o território, prosseguem políticas de cultura, ou seja, prosseguem imperativos públicos, do estado, de dar à população acesso à cultura e que, por isso, são financiados por concurso, de forma transparente e pela qual prestam contas. E portanto os artistas não são dependentes da DGArtes ou do Ministério da Cultura. O Ministério da Cultura é sim dependente dessas estruturas de criação que fazem a agenda cultural em todo o pais e que, portanto, devem ser respeitadas como tal." (Catarina Martins)