- Anda!... Então?
E, depois de levantar a voz, ela olhava para ele, lá atrás, ao fundo, ainda no início do corredor do supermercado, agarrado ao cesto das compras e a colocar nele coisas retiradas das prateleiras. Cruzei-me com ela e olhei para o fundo do corredor à espera de ver um miúdo de 10 anos agarrado aos chocolates.
Não! Era um homem, alto, meio careca, quarenta anos recentes, vestido de escuro que olhou como um cachorro envergonhado em público. Sorri-lhe e encolhi os ombros pensando: deixe lá...
Um minuto depois, ele chocou com o cestinho na arca dos congelados. Bolas - murmurou!
E ela, olhando inquisidora para o cesto das compras:
- Pra que é isso? E não bastava um? Trazes logo dois. Pareces uma criança!
Eu procurava o tagliatelli sem ovo e até me desorientei também. Apeteceu-me colocar rapidamente o nariz e sair por aquele supermercado como a sombra daquela mulher até que ela se visse ao espelho. Que pena que só levava comigo o cartão multibanco, as chaves e o saco ecológico nas mãos :-(
Realmente ela tratava-o como nem a uma criança se deve tratar. Que triste fiquei.
Mais tarde, eu do lado de cá, o casal do lado de lá, ela agarra uma embalagem de miniaturas de bolos pré-congelados prontos a ir ao forno e com um sorriso diz-lhe:
- Olha, os que nós costumamos comer no café. Levamos?
E ele encolhe os ombros ao mesmo tempo que acena um sim com a cabeça. Ela coloca a embalagem no cesto das compras e convence-se que o desejo é dele. Certamente.
Se o amor é isto, se o casamento é isto, eu morreria solteira e no ódio. Certamente.
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