quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Invariavelmente

Invariavelmente,
às seis da tarde, todos os dias, despedia-se da mulher e dos filhos dizendo:
- Até logo, meus amores. Vou namorar.
Iniciava o passeio descalço. Gostava de sentir as pequenas agulhas de que eram feitos os graozinhos de areia perdidos na calçada portuguesa daquela terra do sul.
Caminhava uma hora até chegar, por fim, sorrindo, à casa dela.
Olhavam-se
invariavelmente
nos olhos. Viam-se as almas e despiam-se naquele segundo em que demora um abraço a chegar a outro abraço e a respiração de dois se confunde.

Depois, ele sentava-se aos seus pés e a boca dela bailava no ar.
Ele adormecia,
invariavelmente,
dez minutos
naquele murmurar de folhas e flores que, soltas dos cabelos dela, enchia o vento de um perfume de miosótis e figos doces.

Todos os dias,
invariavelmente,
à meia-noite ele regressa a casa.
Beija a mulher e os filhos e sonha com uma árvore que veio do fim dos tempos só para o abraçar.

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