Nesta altura, íamos a Castelo de Vide passar o Natal. Toda a família se juntava na casa dos bisavós Zeca e Olegário, na Rua da Costa, nº 16.
Não consigo perceber hoje como mais de 15 pessoas dormiam naquela casa e passavam quase 15 dias juntas. Era uma família mais alargada, menos unida e, ainda assim, tudo parecia muito mais simples.
Era assim. Íamos lá no Natal e não era preciso inventar nada, porque sempre fora assim e sempre haveria de ser. Não nos questionavamos nos porquês e parecíamos realmente ter menos egos a respeitar.
Para além dessas 15 pessoas, ainda se juntavam às refeições mais 6 que viviam perto e, apenas por isso, não dormiam no nosso mesmo tecto.
Depois, as pessoas começaram a morrer. Durante alguns anos, morria uma pessoa por ano. Começaram por ir fazer uma grande viagem as pessoas de quem eu mais gostava. A avó Vina, filha da Josefa e do Olegário (o avô Legar e a avó Zefa), depois foi a avó Zefa (mãe que ainda resistiu à morte de uma filha), depois o avô Legar e então o avô Zé (nascido e criado 2 casas acima, na mesma Rua da Costa no nº 20). O avô Zé morreu por amor. Não tenho nenhuma dúvida.
Depois morreu o Titó (saudades, Titó!!! do teu humor, da tua vitalidade, dos brincos que deixaste marcados nas orelhas da minha mãe e do meu tio), depois foi o Tio João, há 7 anos. O Francisco tinha nascido há 5 meses. No ano passado, foi-se embora a Ti Lena (essa é que foi a que vivi como avó, o que dela guardarei sempre é a ternura, o carinho, a doçura daquela mulher, as dores sofridas, as memórias, o sorriso quando me via), este ano, de repente, foi a Ti Joaquina.
Quando penso que estão todos juntos agora, a olhar-nos e a cuidar-nos, e nós aqui a complicar a vida, dá-me muita raiva.
Desde que fui viver para os Açores, tudo ficou mais fácil a esse respeito. Já passei pelo menos 3 ou 4 Natais sozinha, lá. Maravilhosos! No ano passado, estive só com a Fatinha na minha casa. Quanta paz e quanto reinventar da tradição. O mesmo bacalhau, a decoração, a lareira, os doces, as velas e muito tempo passado em casa.
Este ano, eu queria fazer algo novo recordando o velho. Ando há muito com saudades de Castelo de Vide. Eu queria regressar àquele tempo para o reinventar também, eu queria que não estivessemos em nenhuma das nossas casas, nem em Aveiro nem na Pocariça, nem na casa da minha irmã.
Mas não, isso não foi possível. Não está a ser.
Imagine-se. Escrevo agora no blog, o meu pai dorme no sofá da casa da minha irmã, o Francisco está hipnotizado com o Madagascar, a minha mãe e a minha irmã fechadas na cozinha (para não vir frio para aqui, para não sair o calor de lá, porque não é preciso ajuda, porque não há espaço para mais ninguém, porque blá blá blá...
Passei uma tarde tranquila, em casa de meus pais. Eu demorei-me com a lentidão do tempo a fazer o presépio e a pendurar coisas pela casa, acendi velas, o meu pai cortava as couves, depois de ter estendido a roupa, a minha mãe preparava o borrego que hão-de (eles e elas) comer amanhã e cirandava pela cozinha, depois eu lavei muita loiça, mais rápida do que a minha mãe, consegui que o Massau comesse a sua própria comida e a Macua também.
Esta podia bem ser uma crónica de Natal.
Quero ter filh@s para fazer diferente a vida e o mundo!
Por agora, pausa. respiro, respiro, respiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário