quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os dias na Argentina

O que me tem acontecido nos últimos dias nao tem explicaçao. As pessoas com quem me cruzo começam a contar-me das suas vidas, dos seus pensares. As inquietaçoes. O casal do ginásio onde estou alojada teve, em tempos, uma cooperativa que levava as actividades do ginásio. "Construímos isto e aquilo e este campo de juegos". Mas depois a municipalidade começou a ver que eles faziam dinheiro e ficou-lhes com tudo. Dizem: Se os argentinos quisessem, saíamos para a rua e parávamos o país como se faz noutros sítios.
Pergunto: onde?
Pensamos em conjunto e descobrimos que isso é apenas nos países ainda mais pobres. Parece que a actual presidenta da Argentina "que é muito inteligente" nao manda afinal nada. É o marido que continua a governar o país. Um médico ganha o mesmo que uma empregada de limpeza (800 pesos), mas um gerente de banco chega a ganhar 2000 euros por mês.
Parece que aqui em Mendoza quase nao há desemprego pois o governo provincial dá um salário a toda a gente 'para nao fazer nada'. A Argentina está a ficar invadida de soja. A soja alimenta as vacas e outros animais e esgota os solos em poucos anos. Só os grandes latifundiários podem ter estes terrenos, que também estao a ser alugados por estrangeiros que ao fim da exploraçao se vao embora.
Dizem que o Brasil é que está a dar uma liçao ao Mundo... mas é porque os de cima (leia-se Lula) sabem o que querem. E nao precisaram de andar em Oxford ou Cambridge...

Os chilenos estao preocupados com o presidente que a alguns calhou e 51% escolheram, no passado domingo. "O país estava a ir bem..." A democracia é muito nova... ainda adolescente.
Ontem fizemos um piquenique no Parque San Martí... foi lindo! A alegria nao vem só do calor, do verao, nem de sermos aprendizes de clown... Está nos genes.
Três dias depois de comprar pao na mesma panadería, a señora pergunta se estou a trabalhar cá :)
Os companheiros e companheiras de curso vao aos pouco aceitando que sou como sou... começam a compreender o meu espaço e procuram-me também.
Hoje discordei em absoluto com "o mestre". Bolas, que raio de feitio eu tenho, hein? Mas discordei, o que querem?
Os exercícios de grounding (ou enraizamento) sao maravilhosos. É uma das melhores aprendizagens que levo deste curso e que hei-de continuar a investigar. Ontem fechei os olhos e limpei uma casa que estava a 8000 km de distância :-) eheheh espectacular, nao?
No sábado vou fazer um atelier de treino de actor (a partir da filosofia do Lecoc) com o Pablo e a Natalí, aqui em Mendoza. No domingo, sigo para Buenos Aires. Humm... Ansiosa por começar a trabalhar duro no espectáculo da palhaça! Os peruanos querem que eu lhes dê um atelier de teatro, quando estiver no Peru. Sao Palhaç@s de Hospital e trabalham principalmente com crianças da oncologia e internamentos prolongados. Tb vou fazer uma animaçao no hospital de Lima. O boliviano de La Paz quer ser meu voluntário, no projecto de Cochabamba, na Bolívia... Oferece-me tudo o que tem. Também vou com o seu grupo pela província apresentar espectaculos. O Moncho, director do grupo de teatro de Iquique (Chile) é fundador do grupo que já tem 20 anos.
e bla bla bla... se eu conseguisse sintetizar as coisas... ai, nao. continuo tentando, a sério... O que acontece é que tenho andado muito calada e de olhos muito abertos... e pronto, é isso, se pudesse abrir a cabeça e o coraçao esse outro lado do mar veria o que vejo... como vejo. Ensaio as crónicas!

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